Até ao momento, um dos debates mais acesos destas eleições legislativas foi protagonizado entre os líderes da Iniciativa Liberal e do CDS – Partido Popular, João Cotrim Figueiredo e Francisco Rodrigues dos Santos, respetivamente.
O canal de notícias da emissora nacional (RTP3) foi o palco do debate onde os líderes da IL e do CDS estiveram frente a frente para explicar aos telespetadores as diferenças entre votar num ou noutro partido.
A grande parte do confronto ficou marcada por momentos de tensão, onde não se conseguiu perceber o que ambos queriam apresentar, havendo mesmo alturas em que falaram um por cima do outro.
Francisco Rodrigues dos Santos preocupou-se desde o início em encostar a IL ao Bloco de Esquerda, dando a entender o medo de perder eleitorado tradicional centro-cristão para os liberais.
O líder centrista chegou mesmo a referir que o partido de Cotrim Figueiredo votava a favor de “grande parte” do programa dos bloquistas como a despenalização do aborto, a legalização da prostituição e da eutanásia e a descriminalização do consumo de drogas leves.
Francisco Rodrigues dos Santos associou, ainda, o liberalismo defendido pela IL a uma ideologia de “capitalismo selvagem” onde “primeiro vem a economia e só depois as pessoas”, referindo que o CDS é a “direita social porque há pessoas que não tiveram oportunidades na vida”.
João Cotrim Figueiredo não se deixou ficar e defendeu-se declarando que “o discurso do CDS face à Iniciativa Liberal é exatamente o mesmo que o Bloco de Esquerda faz. E se somos atacados tanto à direita como à esquerda é porque alguma coisa estamos a fazer bem.”
Já no que toca ao tema levantado por Rodrigues dos Santos, de que a IL votava favoravelmente parte do programa bloquista, o presidente da IL mostra-se convicto quanto à posição do seu partido: “somos liberais. Liberais na economia, liberais na sociedade, liberais na política”, deixando claro que são a favor destas medidas (aborto, eutanásia, etc).
O tema das privatizações colocou ainda mais em evidência o fosso entre os dois partidos, com o CDS-PP a ser contra a privatização da RTP e da Caixa Geral de Depósitos, enquanto a IL é a favor. Apenas na questão da TAP ambos os partidos se mostraram a favor.
A regionalização acabaria por ser outra das questões em que os centristas dizem claramente não e os liberais admitem falar sobre isso.
Houve, no entanto, momento para uma convergência entre ambos sobre o Chega. CDS-PP e IL garantem que não integrarão um governo onde estejam incluídos representantes do Chega. O presidente da IL foi mais longe vincando que “havendo acordos com o Chega não contribuiremos para uma solução governativa, dentro ou fora do Governo”, garantindo ainda que não viabilizará um governo do PS.
O debate ficou marcado por uma troca de insultos, já perto do final, quando Cotrim de Figueiredo disse que “Francisco Rodrigues dos Santos é o mais novo dos líderes partidários, mas o que tem a cabeça mais velha”, ao que o líder centrista retorquiu: “João Cotrim de Figueiredo é o feijão-frade da política, tem duas caras. É a Ruth Marlene da política.”
Carlos Cardoso