Há quem acredite que a morte é o momento mais pacífico de toda a eternidade. Há quem tenha certezas de que depois dela a vida é mais bela. Eu não. A morte assusta-me: a minha e a de todos aqueles de quem gosto.
A propósito de um texto escrito sobre o poder das palavras, prometi escrever um sobre o poder do silêncio. Admito que foi difícil perceber a arte do silêncio, a arte de uma ausência total ou relativa de sons audíveis, o poder de ouvir apenas a minha respiração, a sabedoria de aprender a tranquilidade na inexistência de barulho.
Muitas pessoas fogem do silêncio porque não toleram o pensamento de solidão que este lhe traz. Eu sou assim. Onde estava a minha cabeça quando aceitei percebê-lo? Não gostei.
O silêncio incomoda-me, mas faz bem. Lembrava-me ansiedade, mas sentia-me tranquila ao mesmo tempo com os meus pensamentos num silêncio escuro e sozinho, a ouvir o vento a entrar pelas frinchas da janela. No meu silêncio eu ouvia os outros, o vento, o ruído lá fora, e pensava nos outros. Pensava na Covid. Pensava em como só vivo uma vez. Pensava em como tenho de aproveitar a vida ao máximo. Depois da vida vem a morte, pensei. E não gostei. Quis parar com o silêncio.
O silêncio é necessário na nossa vida, mas, e se, quando a morte nos levar, teremos de fazer silêncio durante o resto da eternidade? Eu tenho uma voz. Quero usá-la e irei fazê-lo sempre que conseguir. Não quero o silêncio dos que gosto, nem o meu. Não quero ver a voz que gosto de ouvir a ser enterrada e a ser levada para uma eternidade de silêncio.
Usem o silêncio na certa quantidade e na vossa maior qualidade porque ele será paz, mas não abusem dele. A nossa vida nunca poderá depender do silêncio. Teremos a eternidade para fazê-lo.
Maria Faria