O machismo não é apenas destrutivo para a mulher. A sociedade não exige apenas da mulher, as normas sociais impostas não suprimem só as mulheres. A vulnerabilidade do homem não é falada, o estigma do “macho alfa” continua enraizado na nossa visão de mundo.
A sensibilidade dos homens precisa de ser falada e tratada com alguma sinceridade, o silêncio dos homens aprisiona e encurrala. É como correntes de ferro que impedem os mesmos de se reconhecerem como seres humanos frágeis e cheios de falhas e acertos. São tantos os estereótipos que condicionam os homens, a virilidade exacerbada, a dureza de lidar com os problemas ou até mesmo a ideia do homem extremamente sexual e vivido. Porque não falar sobre os sentimentos? Porque não se permitir sentir? São fatores tão intrinsecamente humanos que é uma loucura negá-los.
É no reconstruir que desconstruímos, isto é, parte do ciclo da vida é reconhecer quando algo está mal e lutar contra. Os meninos devem ser ensinados a chorar se preciso, a falar se necessário, a procurar entender as suas camadas internas que compõem a sua essência. O machismo estrutural distancia os homens do diálogo, surge em forma de sentença. “O homem constrói-se na porrada”, a violência nunca vai ser a vertente mais adequadamente educacional. A tal forma quadrada de lidar com as próprias emoções é uma das razões para os homens utilizarem a violência como linguagem. Quebrar esse silêncio incutido é uma maneira de se render a uma faceta completamente humana, essa identidade masculina forjada e perpetuada, até hoje, conduz os homens a uma caverna escura de emoções incompreendidas. Uma atmosfera ameaçadora que diretamente ou indiretamente atinge a todos.
A maioria dos homens sofrem internamente, quase que emudecidos pelo ambiente externo. Muito dos traumas nunca são resolvidos por estarem suprimidos. De certa forma, é uma problemática que envolve não só os homens, na medida que a sua falta de maturidade emocional reflete nas suas relações. É importante entender que as emoções são muito mais do que preto e branco, as relações podem ser um espectro de cores com diversas nuances. Por outras palavras, é ao aceitar a vulnerabilidade que um passo é dado, para a compreensão de uma linguagem emocional própria.
Não é propriamente uma vitimização do homem, mas sim uma outra perspetiva da forma como os estereótipos são danosos e sucumbem a nossa forma de lidar com o meio social. A sociedade tem como hábito apreender-nos em caixas e cabe-nos a nós optarmos pela curva. Ver o mundo com outros olhos e quebrar os preconceitos já impostos.
Giovanna Querubim