“Não copiei, inspirei-me”, dizemos nós sempre que tentamos reproduzir uma fotografia do Pinterest porque sabemos que criar algo de raiz dá trabalho.
Uns dizem que se inspiram, outros assumem a cópia, e a pseudo influencer que faz giveaways de bikinis durante o inverno diz que “a sua maior referência é” o primo mecânico e, que fique desde já claro, que não é a profissão do rapaz que a atrapalha no processo criativo.
Algumas figuras públicas e influencers relembram-nos todos os dias que têm imensas fontes de “inspiração” e mil “referências”, que não devem ser certamente bibliográficas, porque caso contrário, saberiam diferenciar estes conceitos. No entanto, é previsível e também aceitável que qualquer pessoa com influência e visibilidade se predisponha a citar todas as suas inspirações, também elas com alguma popularidade, mas até que ponto isso lhes dá credibilidade, se nem isso o sabem fazer bem?
A nova prática de se citar “a inspiração” em determinadas publicações começou-se a verificar no TikTok. Ainda assim, o Instagram decidiu clonar esta tendência, bem como as suas funções. Os utilizadores, como bons plagiadores que são, obtiveram claramente bastante sucesso nesta missão. Mas afinal qual é o sentido de citar o criador A, sendo que este copiou o B e não citou? Que se assuma de vez a cópia ou que se crie conteúdo diferente ao invés de reiterar os conceitos de “inspiração” e “referência”. A cópia para ser cópia não precisa de ser total, ou vamos dizer que nos trabalhos académicos quando apresentamos 30% de plágio nos inspiramos em determinados autores?
Cópia é cópia, seja ela na integra ou não. Uma referência alude ou menciona especificamente algo, alguém, ou o pensamento de alguém, já a inspiração não precisa de conter vestígios da personalidade dessa pessoa, é apenas um reflexo de como a vemos.
Nem só no mundo digital estas definições têm utilidade, um exemplo muito prático disso é quando um cozinheiro diz que fez um determinado prato com referências à Primavera, certamente conseguiríamos perceber pelas combinações de cores dos alimentos, mas se ele dissesse que a sua inspiração foi a avó, apenas temos de acreditar porque é algo intrínseco ao processo criativo.
Independentemente do contexto, estes termos devem ser aplicados da forma correta e não devem ter a finalidade de desculpar uma cópia através de uma alegada inspiração. Estamos todos cansados de ver mais do mesmo, de ouvir as mesmas musicas em diferentes vozes, mas exatamente com as mesmas interpretações, o mesmo pôr do sol no Instagram, o mesmo estilo no setor da moda, estamos cansados da escassez de criatividade. Todavia, há cópias que não podemos evitar, no verão, não vamos viajar para os Alpes só para não sentirmos remorsos ao publicar as clássicas fotos na praia, apenas temos de aprender a fazê-lo de maneira diferente, com autenticidade, de modo a que quem veja, saiba reconhecer o autor.
Para Arthur Schopenhauer “o sofrimento é a fonte da criatividade”, então, mas afinal não andamos todos a sofrer neste confinamento? E a criatividade? Quem não sofre não pode produzir bom conteúdo? A meu ver, ele quis dizer que para criar é necessário viver e, de facto, não o temos feito, faltam convívios, faltam experiências ao ar livre, falta-nos tudo. Para quem vive da arte e da criatividade, numa perspetiva psicológica, percecionamos um cenário devastador.
Arthur Schopenhauer acrescenta ainda que “criatividade é ver o que toda a gente viu e pensar o que ninguém pensou”. Cada um tem a sua identidade artística e, quem não conhecer a sua, que continue a copiar e a inspirar-se, mas um dia há de encontrá-la.
Inês Monteiro