A cortina fechou-se, as luzes de palco apagaram-se, mas não se sabe por quanto mais tempo. Era sexta-feira 13, o quão irónico seria um desfecho agradável com um começo trágico destes. O certo é que pensámos todos que seriam quinze dias de férias para repor as séries em atraso, iludidos. De repente o mundo parou, um silencio ensurdecedor assombrou as ruas, as lojas, os palcos, a alma de todos nós.
Esta pandemia, apesar de ter deteriorado a economia mundial, não impediu que cada setor continuasse a lutar pelo seu “ganha pão”. Alguns ficaram pelo caminho, outros arranjaram soluções e outros imploraram soluções ao Governo. Nada de novo, o único ponto percentual do Orçamento de Estado dedicado à cultura já cá estava, agora estão é os artistas na miséria.
Infelizmente, para alguns portuguesitos, cultura é ter um reality show de manhã à noite. “Mudam-se os tempos”, mudam-se os conceitos. Mas seremos assim uma sociedade tão retrógrada? Olhemos para a necessidade de desenvolver o intelecto e libertar as correntes opressoras. A opressão existe, e é cultural. Ou vão me dizer que não existe o estereótipo de que quem foi para artes tem um défice de inteligência em relação ao menino prodígio de medicina?
Durante a quarentena se não fosse a arte teríamos morrido de tédio ou até mesmo morrido no sentido literal. Não foram só os médicos que salvaram vidas. As séries que viram, as músicas que ouviram, os livros que devoraram numa manhã são cultura! E foi isso que nos devolveu alguma sanidade mental.
De acordo com o romancista e poeta francês Victor Hugo: “quando uma crise sufoca uma nação é necessário duplicar os recursos destinados ao saber e à formação dos jovens, para evitar que a sociedade caia no abismo da ignorância”. Para isso é necessário ir a museus, a bibliotecas e a teatros, não podemos deixar morrer a arte por um vírus que nos mata a nós.
Para vocês, que não dão sequer valor aos artistas nacionais e deixam que eles acabem no desemprego, premeio-vos com um óscar de maiores opressores artísticos. “Qual será a triste vida de um artista que não é reconhecido pelo seu trabalho?” perguntam vocês e eu repondo: a vida é bela, os opressores é que dão cabo dela.
Resta-nos o bom senso. Que fiquemos em casa a consumir alguns tipos de arte durante estes tempos difíceis, para que quando tudo estiver dentro da normalidade, consigamos usufruir de outro tipo de arte, a liberdade.
Inês Monteiro