Solidão: um fado que nos bate à porta

Solidão: um fado que nos bate à porta

Certezas na nossa vida só temos uma: a morte. Tudo o resto são apenas sonhos, planos e incertezas. Nada nos garante que a nossa vida será conforme tudo aquilo que planeamos, tudo aquilo que desejamos. É incerta, imprevisível, e é isso que faz com que o nosso percurso nesta vida seja um constante desafio, em que cada dia somos confrontados com novos dilemas que nos colocam à prova. Ninguém nos garante que daqui a uns anos teremos a nossa mesa cheia de família e amigos, rodeados daqueles que mais gostamos. A solidão anda à espreita, ao virar de cada esquina, e cabe-nos a nós dela fugir.

São tantos aqueles que nos rodeiam e que se sentem sozinhos. Não precisamos de andar muito. São tantos os vizinhos que vivem sozinhos, sem a visita de um único familiar ou amigo. Não é uma realidade muito distante, está mesmo ao lado da nossa porta, do outro lado da rua, ao virar da esquina… São tantos aqueles que têm como única companhia um gato que de vez em quando aprece em casa para comer, a televisão que está ligada durante todo o dia ou até mesmo o rádio que faz com que a casa não pareça tão vazia. Também eles tiveram uma vida rodeada de pessoas: familiares, amigos, vizinhos, conhecidos… Todos eles foram desaparecendo…

Nesta quadra natalícia em que (em anos normais) temos a casa cheia de gente, uma mesa repleta de conversa e gargalhadas, não nos podemos esquecer daqueles que nada têm… daqueles que não têm ninguém para trocar uma única prenda ou partilhar uma rabanada. Daqueles que não gostam do Natal, porque aquele dia que deveria de ser alegre, rodeado da família, é o dia mais triste e solitário do ano. Nesta altura vejo de perto estas pessoas: o olhar triste, o olhar vazio, a escuridão da casa, os sorrisos que teimam em aparecer… Quantas vezes um “bom Natal” faz o dia daquelas pessoas! Um sorriso, um abraço… E uma esperança, mesmo que pequena, um brilho, um “obrigado” aparece no seu olhar. É tudo o que aquelas pessoas recebem e dão nesta altura do ano.

Temos de estar mais atentos a quem nos rodeia. Às vezes basta um simples “bom dia!”, um sincero “bom Natal!” ou até mesmo um pequeno sorriso, e é o suficiente para deixarmos as pessoas mais felizes, para que sintam que ainda são alguém, e que existem pessoas que se lembram delas. A nós não nos custa nada, e a elas fazemos-lhes o dia.

Marcos Vilaça