Portugal é, como sabemos, um país fortemente marcado pelas suas assimetrias regionais, no entanto, o tipo de assimetrias que se têm vindo a evidenciar são as morais.
Aos olhos do mundo temos vindo a adotar uma posição desumana, transformámo-nos num país onde vidas não importam e onde a política se converteu num palco de emoções e conflitos. Uns choram, outros gritam e sabemos perfeitamente que numa “casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão”.
Enquanto continuarmos a passar uma imagem repugnante, os outros países serão sempre os primeiros a noticiar a nossa desgraça. É inconcebível que o jornalismo português restrinja informação, muito menos quando esta se trata da violação de direitos humanos.
O “caso SEF” acabou por ser abafado, o que na cabeça de muitos soa a: “ufa, ninguém se apercebeu que o Estado Português matou um cidadão ucraniano! Continuemos a falar da pandemia durante mais duas décadas até que alguém reivindique as causas da morte.” E realmente assim o fizeram. Nove meses depois, nós portugueses, estamos a ser confrontados pela primeira vez com esta abominação, ou diria “estas”: a morte de Ihor Homenyuk nas instalações do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, acompanhada do inexistente sentido de responsabilidade do nosso Governo.
Após este crime bárbaro, inúmeras funções no SEF foram cessadas, não obstante, sabemos que não podemos suprimir assim um martírio destes e a vida de alguém jamais poderá ser assemelhada a um mero cargo. Neste momento, o Estado está a arrastar um conflito que também não se pode resolver recorrendo a uma indemnização, mas daqui para a frente cabe-nos a nós, cidadãos, saber exigir e controlar os nossos direitos, mas acima de tudo termos consciência dos direitos dos outros.
Contudo, deixemo-nos de hipocrisias, pois nem tudo no mundo se justifica pela irresponsabilidade política. Todos erramos, e é legitimo errar, mas nem sempre os fins justificam os meios, e transgredir os direitos humanos é algo deplorável.
Agora, permanecemos num silêncio ensurdecedor que afronta o Governo e se realmente queremos continuar a passar a imagem de um país acolhedor, teremos de evoluir bastante, começando por descartar a possibilidade de deixar assuntos pendentes, essa poderá ser apenas uma característica comum a todos os universitários. Aliás, que continuemos a adiar, mas só a matéria acumulada!
Inês Monteiro