Cancro: a doença que nos ensina a viver

Cancro: a doença que nos ensina a viver

Começo por vos colocar um pouco dentro do assunto. Afinal o que é isto do cancro? O que é ter cancro? Segundo o Sistema Nacional de Saúde, cancro ou tumor maligno é o termo médico para denominar um vasto conjunto de doenças caracterizadas por um crescimento anormal e descontrolado das células e que, na maioria das vezes, formam uma massa chamada tumor. Resumidamente, o cancro é das doenças mais difíceis de se lidar. O cancro é a destruição total de uma pessoa, mas, aos poucos, para causar ainda mais sofrimento.

Bem… falar desta doença é muito complicado para mim. É difícil, porque já tive um caso na minha família. A minha avó faleceu de cancro metastizado em várias partes do corpo e os médicos nunca chegaram a descobrir qual o tumor primário. Quando soube o que estava a acontecer fiquei sem reação, uma vez que o que mais se ouve e vê nas notícias hoje em dia é “morreu de cancro”. Uma coisa é quando acontece aos outros, o problema é quando nos acontece a nós, a alguém que é do nosso sangue. É muito complicado lidar com esta doença. As dores. A perda das forças a cada dia. O sofrimento. O desespero, tanto da pessoa afetada, como nosso. Muitas vezes só queremos ajudar, mas acabamos por não saber como. Acabamos por ver as pessoas que mais gostamos a serem destruídas completamente. É das dores mais horríveis que podemos ter. Querermos fazer alguma coisa para aliviar o sofrimento e não conseguir, porque a pessoa já não aguenta mais.

Com o que aconteceu, aprendi que esta doença oncológica não deve ser vista como uma luta, como uma batalha que vamos vencendo e ultrapassando a cada dia. A doença deve ser, sobretudo, vivida. As pessoas não lutam contra o cancro, simplesmente têm de aprender a lidar com a doença e a viver com ela. A acordar com ela. A ir dormir com ela. Quando se recebe a notícia, não fica logo clara a gravidade da doença. Primeiro, há a fase da receção da notícia, em que, basicamente, não se acredita naquilo que os médicos disseram que temos. Depois existe a fase da adaptação, que é quando nos começamos a convencer que temos um cancro e que é preciso fazer alguma coisa para continuar a viver. E, por último, temos a fase da consciência. Esta é a fase em que se começa a perceber que esta doença vai estar sempre presente na nossa vida, em que começamos a saber encarar a doença e todos os tratamentos que a envolvem. Lá está, as pessoas não lutam contra o cancro. As pessoas têm-no presente todos os dias nas suas vidas.

Atualmente, esta é uma doença na qual os cientistas têm investido muito. Têm investido tanto no seu diagnóstico precoce como no seu tratamento e cura. Todos os progressos têm sido notáveis e estes são refletidos no controlo dos sintomas mais pesados que fazem parte dos efeitos secundários. Existem muitas circunstâncias que acabam por determinar o percurso do cancro, desde o seu tipo, a localização, as capacidades/reservas de cada doente, entre muitas outras que fazem com que cada percurso seja diferente. Assim, ninguém pode dizer como vai ser o seu percurso perante a doença, porque é impossível saber, é impossível termos a certeza daquilo que pode acontecer.

Esta doença oncológica faz com que os próprios doentes, as suas famílias e amigos tenham de aprender a viver a doença “um dia de cada vez…”. E como se aprende a viver com uma doença destas? Isso é que ninguém nos ensina. O principal objetivo é conseguir descobrir a cada dia uma coisa nova, isto é, ir descobrindo a vida. É nestes momentos que começamos a perceber que a nossa vida tem demasiado valor e, por isso, cada minuto deve ser aproveitado ao máximo. Cada sorriso, cada lágrima, cada momento, mesmo que não tenha importância, passa a ser muito mais valorizado. Quer isto dizer que as pessoas devem viver a doença, mas sem estar constantemente a pensar nela.

A batalha contra o cancro é dura, difícil e muito cruel, mas o mais importante, sem dúvida, é poder desfrutar da vida enquanto é permitido.

“Heróis não são os que sobrevivem, heróis são os que souberam viver até partir”. E a minha avó é, sem dúvida, a minha heroína para sempre!

Juliana Soares