Enquanto uma fotocopiadora se faz ouvir a uma velocidade de impressão indecifrável de tão veloz e eficaz que é, uma sociedade vai-se revelando através das portas de impressão. Sociedade essa, a nossa, uma cópia xerográfica da grande impressora que são os mass media que a formata e reproduz ao máximo rigor, tingindo-a com jatos de tinta de informação.
A nossa sociedade vive por detrás da autocomiseração de ser impressa pelos mass media: ora porque a publicidade nos motiva a comprar desnecessidades, porque as notícias incitam a votar num determinado partido político, ou porque o entretenimento nos faz adotar como modelo o conceito de uma falsa realidade assente em estereótipos. Exigimos-lhes, então, uma responsabilidade social enquanto fonte de conhecimento que contrarie essa ideia rotulada dos media que se corrompem para corromper a sociedade. No entanto, compenetrados nas contraproducentes consequências dos media na nossa sociedade, ignoramos a nossa idêntica culpa.
Somos culpados, porque nos acomodamos, porque nos mantemos ignorantes, absorvendo, sem qualquer ceticismo, tudo o que os mass media nos transmitem. Somos culpados, porque deixamos que o que vemos na televisão, nos jornais, na Internet ou o que ouvimos na rádio defina os assuntos sobre os quais conversamos; porque nos dirigimos a um estabelecimento comercial já com uma imagem na mente do que vimos publicitado; porque nos deixamos ingenuamente levar pela estereotipia de aparência espalhada nas revistas, nas novelas e nas redes sociais. Nós temos culpa.
Deixemos a autocomiseração hipócrita e tomemos a consciência de que somos impressos porque nos deixamos imprimir. Procuremos questionar, pesquisar e aceitar como viável e correto apenas o que é confiantemente credível e justo. A tomada da fotocopiadora está nas nossas mãos. Cabe-nos a nós a seriedade de saber quando a devemos ligar.
Cristiana Mesquita