Liberdade, um modelo de vida

Liberdade, um modelo de vida

Liberdade. Que palavra simplória, diria mesmo pragmática, ou pelo menos é este o pensamento geral daquilo a que chamamos sociedade. Esta sociedade é a mesma que chama liberdade a um trabalho onde são quase vítimas de esclavagismo, por meras quantias monetárias paupérrimas e se ajoelha perante a passagem tirana e brutesca do patronato.

Eu cresci no seio do humanismo, no seio dos ideais da revolução francesa. E, desses mesmos ideais, como se de uma flor se tratasse, desabrochou o vocábulo mais precioso que ouvira, liberdade.

Apaixonei-me de maneira tão voraz por tal fonética, que dedico a minha vida a esta. A minha liberdade não é somente quotidiana, é poética, é artística, é espiritual, refunde-se em mim próprio. O proclamado quinto império é demasiado pouco para o retratar de maneira singular na forma a que aclamo tamanha emancipação.

Outrora esta libertação começava no campesinato, no proletariado, nas ideias de Vladimir Ulianov, nas reivindicações de Marx e Angels. Contudo, toda esta ideologia magnânima, necessita de uma reformulação pessoal para fazer sentido. Não podemos conquistar o nosso próprio bem-estar e respeito pelas palavras de outrem, por ideias desatualizadas. “O Capital” já tem mais de um século, “O Manifesto” idem aspas e, apesar de continuar a elucidar mentes que não se dão como obtusas e de algumas reformas ainda se enquadrarem nas políticas atuais, maioritariamente não faz sentido.

A nossa manumissão é se calhar a raridade mais subjetiva de possuir, dificilmente damos pela sua presença. Só um ser que viva de forma brilhantemente astuta se pode dizer um ser livre. As imposições que nos restringem são imensas. Por exemplo, numa situação completamente platónica, alguém que use calçado de número 42 não poder usar calçado de número 38, porque se iria sentir fortemente desconfortável e, como tal, nem pensa em tal situação. Mas isto é uma imposição à sua própria liberdade. Restringe-se a um número, fica rotulado por nada mais nada menos que um número. A gaivota, que é um sinal de liberdade, vive através de imposições – é obrigada a retornar à terra quando o mar está audacioso.

A minha utopia é essa. Não sonho em alcançar os jardins suspensos da babilónia, não sonho em alcançar nirvana, muito menos quantias exuberantes de papel. Sonho em tornar-me um ser livre, ou pelo menos perto disso, porque acho que liberdade é um conceito que terá sempre imposições. É demasiado perfeita para que alguém te deixe chegar lá.

Sidarta Gautama alcançou o seu desejo, hoje ilumina milhões. Zeca Afonso refletiu sobre si próprio, hoje é um ícone. Catarina Eufémia lutou pela liberdade, hoje quase caiu no esquecimento. No entanto, quem estuda a liberdade, quem ama a liberdade, tem-na como modelo de vida pela sua coragem, pela sua perseverança.

Liberdade não se resume a política ou a sociedade. É importante sim, muito importante. Por esse mesmo motivo se entoaram Grândola Vila Morena, Bella Ciao e tantos outros hinos. Mas, acima de tudo, resume-se a uma luta pessoal, a uma conquista moral, à ascensão de bem-estar ao seu expoente máximo.

Filipe Reis