Pessoalmente, nunca dei muita atenção ao ano novo. Também nunca tive muita sorte por esta altura. Normalmente é uma noite esquecível, se correr bem, ou traumática, quando corre mal. Mas sei que a passagem de ano é importante para muitos porque representa esperança. Esperança que todas as desgraças e derrotas do ano fiquem aqui, e que o ano que aí vem chegue cheio de oportunidades.
É uma altura caracterizada por tradições e superstições: Subir para uma cadeira, comer 12 passas ao som das últimas badaladas do ano e saltar para o ano novo com o pé direito, para dar sorte. Depois há quem peça 12 desejos. Há quem agite no ar a maior nota que tiver na carteira para atrair dinheiro. Há quem use roupa interior azul, também para dar sorte, pelo que sei (nunca percebi bem a correlação entre as duas coisas, mas ok). Há quem vá dar um mergulho no mar ou quem tome banho com água salgada enquanto diz umas rezas. (É… eu sei. Este último é muito estranho. Mas uma pessoa importante veio-me com esta conversa durante a passagem).
Escreve-se listas de desejos e objetivos de mudança de hábitos. Lista intermináveis: Começar dietas, entrar no ginásio, deixar de fumar, ser mais produtivo ou procrastinar menos, tirar tempo para si, estudar com mais antecedência, não deixar acumular trabalhos, poupar ou gastar menos dinheiro. A lista lá vai. Todos temos expectativas e objetivos que pretendemos cumprir porque, como todos sabem, novo ano, vida nova.
E então chega janeiro, o tão esperado primeiro mês do ano. Altura preferida dos donos de ginásios, suponho eu, uma vez que toda a gente lá se inscreve neste mês de renovação e motivação. – Agora se vão lá aparecer de fevereiro para a frente, é outra história.
Depois vem fevereiro, março e aí por diante. Mas a motivação vai diminuindo e a vontade e a determinação desaparecendo. Começam a aparecer dificuldades, a vida começa a pregar as suas rasteiras e, assim, a esperança que o novo ano trouxe desvanece, para reaparecer novamente no final de dezembro.
Tudo isto verifica-se de certa medida, mais para uns do que para outros, como é obvio. Mas é facto que, normalmente, os objetivos daquela listinha não se concretizam na sua totalidade e, se tivesse de apostar, diria que é porque pomos demasiadas expectativas no ano que acabou de começar. O relógio marca o primeiro segundo do dia 1 e espera-se que tudo esteja diferente. Queremos começar a fazer tudo e já. Queremos que os resultados aparecem de imediato. Que tudo mude depois daquele segundo. Mas adivinhem só. A vida não é assim. Para mudar um hábito, um mau hábito ainda por cima, tem de se ir com calma – não se tira as rodinhas de uma bicicleta se nunca se aprendeu a andar em primeiro lugar. A menos que o objetivo seja bater com a cara no chão. Para além da esperança e força de vontade, temos de definir objetivos realistas e concretizáveis, para começar a ver algumas melhorias, por mais pequenas que sejam no início, e ganhar-se resiliência para não desistir depois das tais rasteiras que vão aparecer ao longo do caminho.
Espero que este ano, não mudem apenas os dígitos, mas também as vontades, aproveitando a mudança de ar que o novo ano traz para começar a fazer as coisas aos poucos, sempre com a consciência que os resultados duradouros não são instantâneos.
E assim me despeço definitivamente de 2019 e recebo 2020 de braços aberto.
Inês Chantre