Já muito se disse sobre dançar. Desde o manobrar rítmico do corpo ao som de instrumentos básicos até ao que pode ser considerado uma experiência fora do plano terrestre para agradar a divindades do imaginário. Pode ainda ser percecionada como uma manifestação artística ou como uma forma de divertimento e libertação, sendo possível uma coexistência de ambas as formas por parte de quem dança.
Ao longo de Eras de faraós, imperadores, reis e presidentes, a dança permaneceu, nunca imutável, mas sempre omnipresente. Dos glamorosos bailes reais com vestidos para lá de práticos, aos estábulos e tabernas de chão duvidoso e sobriedade questionável. Sozinho ou acompanhado, o homo sapiens começou a utilizar estas combinações de movimentos, coordenados ou não, para expressar o seu estado de espírito e, no fundo, transmitir uma mensagem ao mundo que o rodeia. Desde a selvagem “air guitar” até à estrondosa atuação improvisada com o aspirador durante as limpezas, o bailarino dentro de nós está sempre pronto para abanar o capacete. O exercício físico juntou-se à dança, popularizando o movimento dance fit, uma opção alternativa e dinâmica de exercitar o corpo e a mente.
Ainda que muitos não vejam qualquer “atração” na, por vezes, cacofonia de movimentos, é impossível negar a sensação libertadora que nos traz. No momento em que o embaraço e a timidez ficam de lado, o nosso Ricardo Milos interior ataca furiosamente a pista de dança, somos só nós e a música a explodir nos nossos ouvidos. O corpo responde unicamente à batida incessante das colunas e, quase como por magia, a pressão problemática que pesa na consciência fica um pouco mais leve, mais insignificante.
Verdade seja dita, não é preciso saber dançar para se dançar. É preciso sentir o que se dança e porque se dança: o tango fogoso com uma rosa nos dentes, salsa sem ser o condimento, até aquele freestyle que nos domina quando a nossa música especial aparece. Dança-se porque sim, porque apetece, porque nos dá gozo desfrutar do momento ou porque nos alivia a dor que estamos a enfrentar.
Dançar é etéreo, alimenta almas.
Júlia Pires