A Web Summit, uma das maiores conferências de tecnologia do mundo, teve a sua sessão de abertura no passado dia 4 de novembro em Lisboa, na qual Edward Snowden fez uma aparência.
O informático americano Edward Snowden ficou conhecido por expor as atividades da NSA (National Security Agency), que recolhia dados sem a permissão dos cidadãos americanos. Foi este o tema sobre o qual o informático falou na conferência e é sobre este tema que me vou debruçar hoje. Atualmente, a Internet é um recurso mundialmente comum tornando-se até numa necessidade tendo em conta o quão relevante esta se tornou nas nossas vidas. Apesar de trazer muitos benefícios, a Internet carrega também as suas consequências, neste caso sob a forma da recolha de dados. A recolha de dados é exatamente o que o nome sugere, ao realizarmos diversas atividades online existem programas ou pessoas que estão a recolher todas as informações que podem sobre ti através da web.
As grandes empresas como a Google, a Amazon e o Facebook são três das maiores recolhedoras de dados no mundo, corporações conhecidas e, tidas por muitos, como exemplos de confiança. No entanto, são realizadas extensas e profundas recolhas de dados aos seus utilizadores levando-me a questionar se será mesmo necessário ou relevante fazê-lo. Que possível utilidade terá para a Google saber que pesquisei memes engraçados cinco vezes num dia ou que mandei imagens desses mesmos memes a três dos meus amigos por e-mail? Num exemplo mais sério, preocupa-me saber que uma corporação tem acesso à minha constante localização, ao meu nome completo, à minha morada, ao meu número de contribuinte, etc.
A justificação para guardar estas informações é que se trata tudo de dados de marketing, para fazer uma análise dos hábitos do consumidor ou até que é tudo para melhorar a experiência do utilizador. E mesmo depois de enumerar estas razões volto a questionar, para quê vigiar a minha pegada digital? Assim, parece-me que a privacidade de todos os cibernautas é nula, se todos os sites e browsers recolhem informações, então, é me bastante claro que tudo o que faço na Internet é público. Há quem, neste seguimento de ideias, use o argumento de que ninguém deveria ter nada a esconder ou que não há problemas em mostrar todo o meu histórico ao mundo. A este argumento respondo apenas que todos nós temos algo a esconder, algo que queremos só para nós, daí existir o direito à privacidade. O que não significa que alguém esteja a esconder um plano terrorista. Sim, porque a existência de agências como a previamente mencionada – a NSA – surgiram com a noção de que devemos ser todos vigiados. Como se na ínfima possibilidade de alguém integrado numa célula terrorista decida criar um grupo no Messenger com os seus amigos terroristas chamado: Operação Pastel de Nata, o nosso plano secreto para destruir o Palácio de Belém.
Enfim, neste problema parece haver muitas justificações para que se possa continuar a fazer a recolha de dados e, na verdade, nada o pode impedir porque tecnicamente nada destas práticas é ilegal. Por vezes, é mesmo o utilizador que o permite (sim, aqueles pop-ups e janelas que aparecem nos sites servem para alguma coisa). Por outro lado, temos, de facto, corporações com boas intenções que mesmo recolhendo uma quantidade excessiva de dados tentam usá-los para o bem maior, mas infelizmente, há aqueles que se aproveitam desta situação para roubar informações.
Efetivamente, os hackers são a maior ameaça. Mais do que as empresas ou outras entidades, os hackers são indivíduos sem imagem que tem como único objetivo usarem as suas habilidades de programação para roubar dados e violar a nossa privacidade. Esta ameaça é mesmo a mais prejudicial, pois mesmo num cenário em que as empresas não revelem nem recolham dados dos utilizadores, os hackers continuaram a poder fazê-lo.
A Internet tornou-se numa verdadeira armadilha. Cabe a cada um de nós zelar pela segurança dos nossos dados e mesmo que achem que isto é só paranóia, apelo apenas que reflitam nestas ideias e que se questionem:
Serão os meus dados valiosos ou serão apenas palavras e números irrelevantes no grande panorama das coisas?
Rui Pinto