Nascer, Estudar, Trabalhar, Morrer

Um estudo encomendado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos propôs aumentar em três anos a idade da reforma em 2050. A justificação passa por garantir a sustentabilidade do sistema da Segurança Social. A população portuguesa cada vez mais envelhecida, que leva ao aumento do número de pensionistas, e os baixos níveis de fecundidade são fatores importantes a ter em consideração quando se fala em sustentar o sistema de pensões.

O antigo Primeiro-Ministro e ex-Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, afirma ainda, baseado em previsões, que a idade da reforma pode passar para perto dos 80 anos em 2050, um valor bastante superior ao atual.

Pessoalmente, como jovem de 20 anos que já espreita o final da licenciatura e início da inserção no mercado de trabalho, estes estudos e previsões são arrasadores. Embora tenha consciência de que José António Vieira da Silva, ministro do Trabalho, da Solidariedade e da Segurança Social, tenha afirmado publicamente estar contra esta ideia, sei que outros ministros virão. Outros governos virão. E nem todos serão a favor dessa posição. Como diz o povo “Se não fossem os maus gostos, o que seria do amarelo?” … e neste caso o amarelo é a representação do nosso futuro, que cada vez mais se pinta de cinzento.

Posso perceber quem defende a subida da idade da reforma, desde que a pessoa apresente como argumento que o Dumbledore também era velho e tinha a genica de um jovem de 25 anos. Ou que o Pinto da Costa ainda está para as curvas. Talvez me convençam com o exemplo do Night King que, com as suas centenas e centenas de anos, ainda consegue montar um dragão e derrotar milhares de jovens. Só não me digam que é para depois usufruir de uma pensão que, provavelmente, nunca vou ter. É que, embora se morra mais tarde, não sei se chegarei aos 69 ou aos 75, muito menos aos 80 anos. Mas, mesmo que chegue, não quero a possibilidade de ainda trabalhar nessa altura.

Os jovens de hoje são os idosos de amanhã. Os que hoje têm energia por três, mais tarde precisarão de descanso por três. Se, atualmente, idosos com 65 anos se queixam que já não têm idade, nem condições, para trabalharem mais um ano, o que vamos nós dizer quando tivermos 65 anos e se avizinharem mais 15 de trabalho? Certamente os avanços tecnológicos e científicos permitirão um aumento da esperança média de vida. Morrer aos 40 já não é “normal”, chegar aos 100 já não se apresenta como um milagre (embora continue a ser um feito invejável).

Nascer, estudar, trabalhar, morrer. É este o nosso fado? Recuso-me a aceitar. Querem que trabalhemos até morrer ou morramos sem viver?

Maria Lopes