UMA CARTA AO SR.º PRESIDENTE DA REPÚBLICA: Deus no Céu, Marcelo na Terra.

Vila Real, 26  de abril de 2019

Exmo. Sr. º Presidente da República, Professor Marcelo Rebelo de Sousa,

Em primeiro lugar, deixemo-nos de formalidades. Está à vista de todos que não faz muito o seu género! Está à vista de todos que é o presidente dos afetos, beijinhos à tia, à avó e até à cadela! No fundo, somos todos amigos! Nessa perspetiva, deixe-me iniciar esta carta novamente:

Amigo Marcelo,

Como está? A Páscoa foi boa? Confesso que esta altura do ano não me diz grande coisa: a ressurreição de Cristo. Morrer sexta ao final da tarde e ressuscitar ao domingo de manhã é um facto louvável, ninguém duvida disso! Mas, a verdade é que isso acontece-me quase todos os fins de semana, devia experimentar um bar chamado “Praia Bar”, posso lhe garantir que todos que por lá já passaram já morreram e ressuscitaram pelo menos uma vez. Para mim, distribuir beijinhos durante 4 anos e ainda assim, ser considerado o Melhor Presidente da República, isso sim… é um facto nunca antes visto! Talvez a Páscoa comece a ser comemorada de outra forma, em vez de procurarmos ovos da Páscoa, comecemos a procurar a coerência do professor Marcelo. A recompensa pelo menos será mais alta, tendo em conta que o desafio em si, é impossível de concretizar.

Mas, já dizia o velho ditado que, nem Cristo agradou a todos, por isso amigo Marcelo, nem você o poderá fazer. Embora, eu como sua amiga, posso ajudá-lo a estabelecer algumas prioridades. O que acha de começarmos a agradar em primeiro lugar: às vítimas de Pedrógão? Às pessoas que continuam sem uma casa para viver, sem os seus negócios reconstruídos? Se começássemos por estas vítimas que, continuam a ser atacadas pela ganância dos seus governadores e principalmente, pelo seu desprezo perante esta situação? Porque é bom amigo Marcelo, é bom ter o nosso lar, por mais humilde que seja, é nosso!

E posteriormente, dar uma vista de olhos na tragédia de Borba. Perceber como estão as famílias das vítimas, o apoio que podemos prestar a alguém que perde os seus familiares de uma maneira tão cruel. E igualmente, ver as situações de todas as pedreiras de Portugal, perceber o seu estado, as condições e evitar estes erros, que no fundo … custam vidas aos seus eleitores.

Perceber a razão de tantas greves amiguíssimo Marcelo. Alguma coisa estará mal, não concorda? Professores, enfermeiros, transportes públicos e agora, o pânico instalado nas bombas de gasolina de todo o país, com a greve dos motoristas de substâncias perigosas? Ainda acha que é esta gente que está toda errada? Que serão apenas caprichos? Pois quem sofre é quem precisa de notas para fazer as suas candidaturas ao ensino superior e não as teve. De quem passa horas nos serviços de urgências por falta de pessoal ou vê as suas consultas e mais grave, cirurgias, a serem adiadas, por causa de greves de enfermeiros. Quem precisa de ir para o trabalho, para ganhar o seu, e não pode porque não tem transporte privado, muito menos … público!

Prestar algum tipo de apoio a vítimas de violência doméstica, sugeria eu. Perceber o que acontece por exemplos aos filhos dessas vítimas, que ficam sem pais e com um trauma para a vida. Eles tem apoio do estado em alguma perspetiva? Apoio psicológico, por exemplo? Faz falta que a justiça do nosso país, amigo Marcelo, dê realmente sentido ao nome, que seja justa, que seja justiça, porque até agora … foi simplesmente, uma brincadeira.

Fixar os nossos jovens em Portugal? E a sua melhor solução foi: ensino profissional não precisa de exames nacionais para se candidatar? Alguma vez isto fará sentido? E o ensino normal? Todos devemos ter as mesmas oportunidades, concordo efetivamente com isso, mas como tal, todos devemos ter os meus deveres também. Exames nacionais para todos ou para nenhuns. Ou andámos estes últimos anos a falar de igualdade de género entre homens e mulheres e ainda não aprendemos que a igualdade não tem género, nem cor, nem raça? É igualdade entre seres humanos, sejam eles de ensino normal ou profissional. Porque a única coisa que vai conseguir com esta decisão é que, em vez de termos 60 pessoas por curso, todos os anos,  desempregadas … teremos o dobro, ou seja, 120 pessoas a candidatarem-se ao fundo de desemprego, que realmente fundo é, mas de falta de profissionalismo,  funciona pior que os pneus do meu carro em dias de chuva, e falo de um Nissan Micra de 2000.

Dar algum descanso aos meus pais, avós e com isto, falo das pessoas com mais de 65 anos. Acha mesmo que depois de cerca de 40 anos de trabalho, estas pessoas ainda tem a energia, a vontade, a disposição para trabalhar mais 20 anos? Mais 10anos? Mais 5 anos? E o que levam desta vida senão trabalho? Deixem-nos descansar, façam com que estas pessoas consigam aproveitar a pouca vida que lhes resta da melhor maneira e empreguem esses 120 jovens que foram para o desemprego.

Prioridades amigo Marcelo. Prioridades!

Foi o meu conselho de amiga. O conselho de uma pessoa que acreditou em si. No habitual comentador da TVI, que aos domingos à noite mostrava ser tão inteligente, sábio, ponderado e que podia realmente fazer a diferença pelo nosso país.

Uma coisa é certa, será sempre o Presidente dos afetos e isso ninguém lhe tira, como tal, peço que reconsidere este pedido da minha parte: sou finalista, e vou fazer um almoço de queima, como tal está convidado, haverá muita comida, vinho e tias para beijar, ou seja, menu completo.

Aceita o convite?

Peço desculpa pela informalidade, mas afinal, somos todos amigos dos copos.

Atenciosamente,

A sua amiga, Vera