(In)gratidão

Com muito pouco prazer, apresento-vos a minha sociedade…

Começo por referir que, a gratidão é uma grande falha nela.

Incomuns. Vulgares. Conhecidos. Família. Amigos. Vizinhos. Colegas. Pessoas. Gente. Multidão. Somos tantos e não somos nada. Não entendemos as atitudes, não percebemos os olhares, não pensamos fora da caixa, não alcançamos o que é pretendido. Somos seres muito ingratos pelo que temos e mais ainda pelo que nos falta. Somos cada vez menos do que fazemos a mais. Num instante damos, no outro perdemos e no a seguir vingamos.

O problema é que tudo o que vai, volta. Tudo o que é demais, chega a ser pouco. Não queremos medir, mas somos medidos aos palmos. Nem sempre a origem é zero, por vezes é mesmo negativa quando paramos para pensar. Quando os quadrantes ficam muito perto da realidade assusta, mas quando nos interceta no que somos, vimos à tona. A amplitude do que nos acontece é proporcionalmente igual a ingratidão que nos invade.

Somos tantos, e não somos nada.

Vamos passar a vida nisto, neste ciclo, nestas voltas que a vida dá e não seremos capazes de agradecer. Pelo que temos, pelo que conseguimos, pelo que queremos atingir e pelo que vamos conquistando. Agradecer é uma palavra pequena, uma ação simples, com um significado tão grande e um poder gigante.

Só queria que alguém lhes ensinasse a agradecer, como se de uma coisa simples se tratasse. Um hábito diário. Uma preocupação constante.

Só queria um dia vê-los agradecidos: pelo que têm, pelo que já passaram e pelo que atingiram. Por um dia… Talvez no dia a seguir se esquecessem – e ups! -, voltassem a agradecer. Quiçá se tornasse um ciclo, uma espécie de estrada sem saída….

Se esse dia chegasse, eu iria querer saber o que os fez mudar, o que os fez acreditar no poder da palavra e da ação.

Queria, um dia, (re)apresentar-vos a minha (nova) sociedade… E queria também que vocês não se lembrassem do que ela foi, porque eu sinto vergonha do que ela é.

Somos tantos e não somos nada!

Num momento estamos e no outro deixamos de estar. Temos que nos consciencializar que hoje somos nós a precisar e amanhã é o do lado. Hoje temos capacidade de reconhecer, … amanhã não temos para agir.

Porque não mudar agora, minha querida sociedade?

Talvez um dia possamos dizer “Somos tantos e podemos tudo!”. Tudo mesmo. Tudo o que esteve em rascunho, passa a papel de fotografia, para que passe e repasse nas gerações, para que fique marcado na história, como que de uma tradição se tratasse. A capa seria “Tradição Grata”, escrita por uma sociedade agradecida.

Talvez um dia eu ouça falar numa sociedade grata… Talvez um dia…

Inês Silva