A Cor do Ridículo

Não vivemos num mundo cor-de-rosa nem num mundo onde é tudo sempre preto no branco! Vivemos num mundo onde o ridículo, o supérfluo e as audiências falam, sem dúvida, mais alto do que a nossa sanidade mental. Que cor estaria associada a isto? Um vermelho? Uma cor que transmite tanto poder? Um amarelo? Uma cor que será sempre um desafio combinar com outras peças, outros objetos? Ou um roxo? Que é uma cor tão adorada por uns e odiada por outros?

Independentemente da cor, o que está na moda atualmente é encontrar o amor!  Mas agora não o fazemos de maneira tradicional. É muito mais fácil termos milhões de pessoas a assistir a isso, do que ser uma coisa pessoal. A fórmula para encontrar o amor é essa mesma: inscrevermo-nos num programa onde é promovido o amor, expor-nos, a nossa vida, os nossos medos, desafios e segredos, sermos alvo de críticas, sejam elas construtivas ou não, recebermos um valor simbólico que compromete toda essa exposição, e por fim … conhecer a pessoa, que pensámos nós ser a tal para o resto da nossa vida. Confiando essa decisão, apenas nas audiências do canal, que, sem olhar a meios, promovem esse amor de uma forma surreal.

Em primeira fase, tivemos o “LOVE ON TOP” que, independentemente de o formato ser para encontrar o amor, não se restringia apenas a isso. Sendo que, por vezes, os vencedores das edições saíam do programa sem par, sem o amor. Era um jogo de lógica, estratégia e de quem mostrava mais pele. No fundo, vencia quem tinha a pele mais bonita e macia.

Logo a seguir, somos surpreendidos com “Casados à primeira vista”. E se aqui as coisas pareciam mesmo ter caído no ridículo é porque ainda não imaginávamos o que se seguia. A verdade é que um encontro às cegas já não está na moda! Não funciona, sejamos sinceros! Não tem sentido conhecermos a pessoa antes de nos casarmos, porque depois nunca chegamos efetivamente a casar… e se isso é o mais importante, então porque não saltar logo essa parte? Em vez de ser o vestido da noiva que não se pode ver antes do casamento, ou dá azar, agora é mesmo a cara do seu conjugue que determina essa sorte! O resultado esteve mesmo … à vista!  O problema é fácil de explicar… da mesma forma que o Bruno de Carvalho ainda acredita que algum dia vai voltar a ser Presidente do Sporting, a Ciência acredita poder encontrar o amor entre duas pessoas. Aqui a cor, sem dúvida, é o verde. A esperança não lhes falta. Infelizmente, para mal dos nossos pecados, será a última a morrer.

First Dates, ou melhor dizendo, os encontros às cegas. Se no canal concorrente, os encontros às cegas não funcionavam, aqui deram a oportunidade de pelo menos ver a cara do noivo antes do casamento! Não é um formato que obrigue as pessoas a nada, de todos será o melhor! É um jantar descontraído, com algumas brincadeiras pelo meio, mas que realmente proporciona, não digo o amor, mas que duas pessoas se conheçam. O que levam depois desse jantar, apenas a essas pessoas diz respeito. É entretenimento, com algumas aulas de geografia pelo meio, estamos sempre a prender com estes concorrentes (ao fim de 22 anos descubro que afinal os Açores são um país e Espanha pertence a Portugal, deve ser uma freguesia de Cascais, lá para o Sul… nunca visitei muito o Sul, sou sincera!)

E por fim, temos a grande disputa destes dois canais, na estreia dos “Quem quer …”. Habitualmente seria, ser milionário, agora é: “Casar com o meu filho?” ou “Casar com o agricultor?”. E digo isto, nem sei se hei-de de rir ou chorar. A indecisão é maior do que escolher entre comer no McDonald’s ou no Burger King, onde o pensamento é: vou comer bem ou vou comer barato?

Dois formatos completamente irreais. Se num existe uma desvalorização completa da mulher, do que ela é hoje na nossa sociedade, do seu papel e da luta diária pela igualdade, no outro vemos a completa desvalorização de um homem pela sua profissão… os agricultores não são capazes de encontrar o amor?

Nem tudo podemos considerar entretenimento, nem tudo é entretenimento!

Quando inicialmente disse que não sabia se havia de rir ou chorar, é devido mesmo ao ridículo da exposição que acontece nestes programas. Será a fama mais importante que tudo o resto? Mas a pergunta é: que fama?

A minha principal preocupação é: como existem mulheres, que são capazes de submeter a isto? Levar com críticas das mães dos meninos (coitadinhos), aos quais só lhes falta um altar de tão bem-comportados que são! É uma completa desvalorização do que realmente é ser mulher e do que realmente é o amor. A minha cor de indignação neste momento: azul! Uma cor que normalmente me deixa calma, e me lembra o mar, pois neste momento virou tempestade, denominado: FURACÃO – procurem a vossa dignidade, há muito que ela anda perdida!

Só tenho mais uma coisa a dizer: Se existem pessoas que realmente acham que é um programa de televisão quem lhes vai ajudar a encontrar a sua outra metade, o seu par, o seu cônjuge, a sua alma gémea, o que lhes queiram chamar… a encontrar o amor, é porque nunca amaram ninguém, nem sabem o que é amar. As coisas acontecem quando têm que acontecer e de forma natural. Não te podes forçar a gostar de uma pessoa, muito menos gostar de uma pessoa em horas. O amor é o mais puro dos sentimentos que pode existir, e dói-me alma de pensar que… nem os gritos da Cristina Ferreira conseguem acordar esta gente para a realidade!

Vera Silva