A (in)justiça do politicamente correto

Falo-vos do que a nossa sociedade atravessa…

Pertencer à sociedade em que vivemos dá-me voltas à barriga. Uma sociedade cada vez mais individualista, sem poder de palavra ou argumentação pertinente. Que apenas se restringe ao que os outros dizem ou fazem, sem que haja um balanço mental entre o que é visto e o que é interiorizado.  Até quando vão abraçar o politicamente correto e deixar para trás toda uma opinião pessoal?

A consciência de que temos e devemos construir uma sociedade madura começa a perder-se à medida que o tempo passa e nos encostamos ao ombro da pessoa do lado. Pensar de forma partilhada e não filtrada faz-nos entrar num ciclo sem fim, onde a saída é a não-opinião. Não somos ninguém, nem seremos, enquanto não dermos voz aos nossos pensamentos e ideias. Temos todos que nos fazer ouvir. Temos todos que nos fazer sentir. Marcar pela presença, diferença e persistência. Devemos incutir isso a todos, mesmo àqueles que fogem “com o rabo à seringa”, pois é aqui que vemos e sabemos quem somos, porque pensámos e como devemos agir.

Mas também é preciso saber filtrar, sim filtrar … sinto que é o que falta. É preciso saber como dirigir a nossa opinião a alguém e perceber se o devemos fazer. Onde começa o espaço do outro termina o nosso. Não podemos ultrapassar a barreira de forma destrutiva. Que direito temos em dizer tudo o que queremos – opinião gratuita – sem antes sabermos se o outro lado quer ou precisa de ouvir? Devemos falar, sim. Mas é fundamental saber, quando o devemos fazer.

É claro que vos falo de uma espada de dois gumes.

Não é justo pensarmos só em nós quando somos tantos milhões. É necessário pensarmos como sociedade. Pensar politicamente correto, falar politicamente correto e agir politicamente correto tem de deixar de existir da forma que existe. A transformação começa em nós. Em cada um de nós. Nas coisas mais simples. Nas palavras mais ouvidas. Nos sentimentos menos expressos.

Sinto-me a deixar de me sentir. Porque deixamos de ser um bocado de nós quando tentamos viver a pele dos outros.  Não sei fingir acreditar para fazer o tempo andar mais depressa. Também não sei concordar com as atitudes imaturas desta sociedade de pleno século XXI. Mas ainda tenho esperança na minha sociedade, na sociedade que eu, e cada um de nós, é capaz de (re)construir.

Eu acredito que não estamos assim tão aquém de conseguir. Eu acredito.

Inês Silva