Sento-me na cadeira e observo o meu reflexo no espelho. Quem sou eu afinal? A personagem que ainda não deixei para trás ou a Alicia da vida real? Começo então o processo de distanciamento. Corto, ponho extensões ou pinto? Escolho de olhos fechados. O que conta é o agora.
O primeiro passo é mudar o cabelo, mas o processo que se segue não é tão rápido assim. É hora de me despedir da personagem. Sei que um pouco dela ficará comigo. É inevitável. E ainda bem que isso acontece, uma personagem oferece-nos sempre uma evolução positiva.
Tenho 36 anos e ainda não sei como será o meu futuro profissional. A idade aqui não passa de um mero número. Tenho plena noção de que poderei ter 50 anos e continuar sem saber quais os trabalhos que me esperam. Neste momento, a minha personagem chegou ao fim e não sei qual será a próxima. Posso ser contactada passado um mês ou um ano. É uma incógnita. Aliás, quem sabe se serei contactada. São vastos os casos em que os atores foram obrigados a voltar à fase dos castings.
Dizem que “é preciso inovar.” Confesso que é uma realidade que me custa entender. Ouço pelas esplanadas de café que o público se cansa da imagem de um ator quando este passa muito tempo nas telas. São essas mesmas pessoas que se queixam da pouca experiência de alguns atores. Então pergunto-me: não é a quantidade de trabalhos e de personagens interpretadas que fazem um ator aprender mais? Se os atores são obrigados a fazerem pausas como é que é suposto ganharem mais experiência?
Enquanto espero pelas decisões alheias, conto as moedas no bolso. Questiono o tempo. A ansiedade não para de crescer. A arte não é dinheiro, mas a vida é. Preciso dele para me alimentar, para viver. E se este não chega no final do mês? Ou do ano? A vida de um artista é isto. São as dúvidas frequentes. A espera por um amanhã melhor que nunca chega.
Cansada das respostas comuns de quem se recusa a ver o mundo artístico, sou obrigada a aceitar a realidade. As pessoas têm prioridades e não posso negar isso. Num país onde o salário mínimo é insuficiente para as necessidades básicas, resta ainda menos dinheiro para despender nas artes. Com todos estes medos que me assombram, soma-se o medo de falhar. Todo o profissionalismo é pouco. A exigência é cada vez maior e não há espaço para culpar ninguém pelos meus fracassos. Mesmo quando a culpa não é, de todo, minha. Estou inserida num universo de injustiças que ninguém quer ver.
Quando me dizem que tenho talento, mas não encaixo no perfil proposto. Quando me dizem que a personagem tem de ser atribuída a alguém fisicamente atraente, mas não cumpro os requisitos. Quando me dizem que é necessária uma personalidade forte, mas não tenho carisma suficiente. Quem devo culpar? As altas expectativas dos espectadores em ver figuras bonitas e esbeltas, a ambição dos realizadores que querem embelezar a visão do público ou a mim, por não estar à altura do papel?
É esta a minha realidade. E neste mesmo mundo, as minhas palavras não passam de lamentos.
Alexandra Fonseca