Caótico, foi a palavra que mais se utilizou para descrever o forte nevão que atingiu o concelho de Vila Real, na passada terça-feira.
Começamos com as boas notícias: várias foram as escolas que encerraram mais cedo com o intuito de levarem todos os alunos em segurança para suas casas, várias foram as pessoas que saíram mais cedo do trabalho (inclusive eu) para também conseguirem chegar a casa em segurança!
Mas instalou-se o pânico!
Por várias horas, a cidade parou e não deu resposta a todas as necessidades das pessoas que por momentos, não sabiam se haviam de rir e mandar umas bolas de neve, ou apenas se preocuparem em chegar a casa em segurança, sem nenhum improviso pelo caminho.
Em Vila Real, foram detetadas várias ocorrências, camiões, autocarros, carros que ficaram presos na neve e mantinham ainda mais a circulação condicionada! Havia pessoas a demorarem mais de uma hora a fazer o simples trajeto da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro até ao Nosso Shopping, algo que normalmente, faz-se em dez minutos!
Havia pessoas a deixarem os seus carros em sítios aleatórios, com o medo do que poderia acontecer se não o conseguissem controlar, eu fui uma dessas pessoas! E ao fazer o caminho para casa a pé, vi de tudo: carros a deslizar, a bater, mas mesmo assim mantinham o lema:” insiste, persiste e não desiste”, será apenas teimosia das pessoas ou a cidade não estava preparada?
Na ponte vermelha, um grande símbolo de Vila Real, mais uma vez o trânsito era caótico! Em dias normais, quando o semáforo fica vermelho, impossibilitando uma via de avançar e autorizando a outra via, existe sempre um atrevido que ainda avança. Claro que, neste dia, os atrevidos não faltaram, mas o que não faltou foi também uns flocos de neve para complicarem a vida daqueles que se atrevem demais. E agora pergunto, será a falta de civismo de algumas pessoas ou a cidade não estava preparada para este nevão?
Piorando a situação, em vários pontos do concelho de Vila Real, passaram-se horas sem energia elétrica, devido à forte acumulação de neve em linhas de média tensão que arrastaram consigo postes de eletricidade, levando as pessoas a acenderem umas velas e a perguntarem-se “Como é que alguém, em tempos remotos, vivia sem eletricidade?”. É verdade, elas viviam! E mesmo assim, em vez de utilizarem essa falta de luz para pelo menos um dia não “esbanjarem” tudo em redes sociais… Mesmo sem luz, o mais importante era partilhar um post a criticar o trabalho de alguém, ou melhor, a falta de trabalho de alguém! De quem? Não sabem. De alguém apenas. A EDP tentou solucionar a situação o mais rápido possível, e com rápido quero dizer três dias depois! Mais uma vez, será a falta de consciência das pessoas que dificulta e instala ainda mais o pânico nas entidades responsáveis, ou realmente a cidade não estava preparada para este nevão?
Acredito seriamente que a cidade não estava preparada. A situação não foi precavida por ninguém, mesmo com várias notícias e avisos de queda de neve e do mau tempo que se avistava. Não é uma cidade que está acostumada a ver neve muitas vezes e, por isso, a situação devia ter sido pensada, antes do primeiro floco de neve ter caído!
Quando estacionei o meu carro, depois de me ter aventurado a avançar uns meros cinquenta metros e ele não me ter obedecido a nada, decidi que para minha segurança e dos outros, era melhor ir a pé. Sempre confiava mais nos meus pés do que em quatro pneus gastos. E foi a melhor decisão!
Pelo caminho encontrei uma senhora que, com o seu humilde guarda-chuva, me perguntou:
“- Quer boleia menina?
– Agradecia imenso!” respondi.
Juntas, assistimos àquilo que a neve realmente traz: a alegria, os bons momentos que partilhamos com os nossos amigos, família, aqueles que realmente ficam nas nossas memórias. Eram bolas de neve a voar por todo o lado, pessoas a deslizar em placas de trânsito e os valores de altruísmo a subirem as temperaturas baixas, quando os carros não conseguiam arrancar na subida inclinada da Avenida Europa e grupos de pessoas se juntavam para empurrar e fazer avançar o trânsito.
Os bombeiros, a proteção civil, os reboques não conseguiam chegar a todo o lado, é certo, mas havia sempre alguém disposto a ajudar. É aqui que paro e reflito que realmente a cidade não estava preparada. O civismo das pessoas é tantas vezes posto em causa, como a sua consciência e o senso comum. Claro que é muito mais fácil criticar algo do que tentarmos arranjar uma solução para os problemas.
Mas em comentário com a senhora desconhecida, consegui perceber uma única coisa, neste dia gelado: a neve no fundo, traz união. Todos ficámos contentes por ver uns flocos a cair (e nem sabemos porquê…), mas acaba por ser tudo tão natural, tão puro, tão frio, tão deslumbrante, tão sincero e tão irreal que nos acaba por unir, mesmo sendo uma desconhecida a pé com um guarda-chuva e uma menina que acaba de deixar o carro num sítio qualquer com medo de o conduzir.
E no penúltimo dia de fevereiro, a neve trouxe a Vila Real um manto branco, digno de ser visto e apreciado por todos! E a verdade é que as fotografias ficam muito boas para os likes. Por isso, é bom aproveitar, partilhar as fotografias e esqueçam os comentários daqueles que criticam as pessoas que neste nevão a única preocupação era ajudar a comunidade e não aproveitar a sua diversão com aqueles que mais gostam!
Vera Silva