Máquinas humanas

Qual é a primeira coisa que fazemos quando acordamos? Muitos dirão que é abrir os olhos, mas começo a achar que a primeira coisa que fazemos é ir ver as nossas redes socias. ‘Quantos likes terá a fotografia que publiquei ontem? Tenho de tirar uma fotografia para publicar.’ Estes são os pensamentos da maioria das pessoas de hoje em dia, não é apenas a geração mais jovem como muitos pensam. Hoje em dia, até as pessoas mais velhas, a geração que “não tinha nada disto no tempo deles” anda obcecada com as novas tecnologias.

A verdade é que tudo anda em constante evolução e com as tecnologias acontece o mesmo. Claro que isto é algo bom… bem, até um certo limite. Cada vez ouvimos que há mais crimes online e que temos todos de ter atenção ao navegar na internetIsto tudo é verdade, mas porque as mesmas pessoas que dizem que devemos ter cuidado querem substituir pessoas por máquinas? Atualmente, nós preferimos interagir com máquinas do que com pessoas, onde quer que vamos temos a escolha de ser atendidos por pessoas ou máquinas e cada vez mais a preferência são as máquinas.

Eu cresci na geração em que já existia a internet, em que os telemóveis estavam na moda e que ter um bom telemóvel é ter estatuto. Porque não temos estatuto por termos caráter, sermos prestáveis e pessoas trabalhadoras? Cada vez vivemos mais num mundo ao contrário, em que os bens materiais têm mais valor do que o carácter. Como podemos ensinar aos nossos filhos a terem valores se ninguém quer saber disso? De que vale ser um bom ser humano uma vez que se não tiver roupas de marca ou um iPhone ninguém se importa?

A sociedade tem de parar um bocado e reparar no que se está a passar à sua volta. Crianças a sofrerem bullying porque há pessoas que acham que as suas palavras não magoam, crianças enganadas e abusadas por adultos online. Já pensaram que apenas avisos não servem para nada? Têm de ser tomadas medidas para prevenir estes tipos de situações. A sociedade tem de parar de fingir que se importa e ficar chocada sempre que algo deste género acontece. A sociedade tem de começar a importar-se realmente e a fazer algo.

Agora se me perguntarem se eu gostava de ter nascido noutra época, a minha resposta seria “não”. Nenhum século é perfeito, houveram guerras, epidemias, sempre houveram problemas. A única diferença é que agora esses problemas não são encobertos, a população sabe que eles existem, muito graças às novas tecnologias. Por isso, não podemos ignorar o que se passa e esperar que se resolvam por magia. Se temos todas estas ferramentas para poder mudar o que há de errado, então, porque não as usar?

Temos de parar de fingir que está tudo bem e que não há nada que possamos fazer porque ninguém nos vai ouvir. Nós temos de nos levantar das nossas cadeiras, deixar os telemóveis de lado e tomar atitudes. Nós somos seres humanos, não máquinas. Nós não nascemos apenas para seguir regras, nós nascemos para mudar o que está de errado.

Andreia Coutinho