Já reparaste na contradição desta expressão? Quando a usamos nem notamos a incongruência
desta engenhosa construção de palavras. Contudo é precisamente nesta antítese que reside todo
um grande mistério.
Nos tempos que correm, agitados e tumultuosos, é nevrálgico escutarmos o que, por vezes, não
se ouve à primeira. É na sombra de conceitos mais mediáticos, que se esconde aquele que não
tem o merecido valor, mas que se afigura extremamente importante. Não falo da inteligência
artificial, possivelmente um dos temas mais falados dos últimos cinco anos, e que mudará para sempre
o nosso quotidiano. Não falo da sustentabilidade ou de alterações climáticas, que assumem um
papel fundamental para a perpetuação do planeta. Refiro-me, caro leitor, ao silêncio. Reflete
comigo. Quando foi a última vez que te deixaste submergir por um lugar profundamente
silencioso? Um espaço no qual o silêncio é a tua única companhia. É cada vez mais difícil termos
esse momento para nos remetermos ao mais absoluto silêncio, seja pela constante tendência de
procurarmos um estímulo de dopamina, como o telemóvel, ou pelas vozes que teimam em
assaltar-nos o pensamento em momentos menos oportunos. Lamento informar-te, mas tenho
péssimas notícias: desaprendemos a lidar com o silêncio, temos medo dele! Somos reféns do
barulho. Prisioneiros de um mundo que não se quer calado.
Lembrando as palavras de um grande filósofo francês, Blaise Pascal, conhecido mundialmente
pelos seus contributos na área da matemática e na física, o mesmo refere que “todos os males vêm
da nossa incapacidade de ficar sozinhos no quarto”. As palavras de Pascal, que remontam ao
século XVII, ainda encontram eco nos dias de hoje. Sozinhos no quarto, isolados do mundo, sem
acesso às tecnologias ou a alguma distração que nos preencha a mente, ficamos a sós com os
nossos pensamentos. Pensamentos esses que, tantas vezes, nos deixam desconfortáveis. Quantos
de nós não dissemos já algo como “Deixa para lá! ou “Esquece isso! Não penses mais nesse
assunto”?
São palavras que agem como um penso rápido, eficazes a curto-prazo a camuflar aquilo que mais
nos preocupa, mas inúteis na resolução do problema, que permanece e vai-se alimentando
silenciosamente. Temos medo de nos submeter a esta espécie de terapeuta, medo de descobrir
novos impulsos e desejos. Temos medo da reposta do silêncio.
O silêncio pode ser, efetivamente, ensurdecedor, se assim o permitirmos, mas pode também ser
um prazer se fizermos dele um aliado.
Este oásis que perde gradualmente o seu território no vasto deserto do barulho, assume-se como
um verdadeiro colete salva-vidas num mar onde é preciso muito cuidado para não nos afogarmos.
Tiago Delgado