FoMo: o fenómeno social do século XXI

FoMo: o fenómeno social do século XXI

Sabes quando o teu grupo dê amigues publica uma foto numa saída em que  não conseguiste estar e sentes que estão a aproveitar sem ti? Não és egoíste nem imature, és alguém que está a passar por FoMO – Fear of Missing Out (ou medo de ficar de fora). Este receio de não saber o que as pessoas estão a fazer em tempo real é muito comum e pode causar ansiedade, falta de concentração, dependência das redes sociais e problemas de sono (Alutaybi et al., 2020).

FoMO, ou “Fear of Missing Out”, é um fenómeno psicológico caracterizado pela ansiedade que surge quando uma pessoa sente que está a perder ou a não participar em eventos sociais, experiências ou oportunidades importantes (Tanhan, Özok, & Tayiz, 2022). Este conceito está fortemente associado ao uso de redes sociais, onde os indivíduos observam as experiências partilhadas pelês outres e sentem-se incompletes ou deixades de parte por não estarem envolvides. Segundo o Cambridge Dictionary (2020), o FoMO refere-se também ao estado de ansiedade que surge quando as pessoas não estão cientes de eventos divertidos ou emocionantes que ês amiges partilham nas plataformas sociais.

De acordo com Argan et al. (2018),FoMO  é amplamente reconhecido como um subproduto da era digital, manifestando-se principalmente em plataformas digitais e sociais como Facebook e Instagram. A constante comparação dês usuáries com as vidas dês outres pode provocar sentimentos de exclusão e inferioridade. Além disso, o uso intensivo das redes sociais encontra-se frequentemente relacionado ao vasto crescimento do uso de tecnologia na última década, especificamente em gerações mais novas. 

Em contextos académicos, o FoMO é particularmente prevalente entre ês estudantes universitáries (Tanhan, Özok, & Tayiz, 2022). Estes sentem que têm de estar constantemente conetades para não perderem experiências partilhadas peles colegas. Além disso, este fenómeno pode desencadear comportamentos prejudiciais, como o controlo contínuo dos telemóveis em situações inadequadas, seja durante as aulas ou no ato de condução. Sabias que em Portugal, o FoMO pode ocorrer com jovens universitáries em relação à praxe, devido à pressão para se envolverem na prática e ao medo de exclusão social? 

O impacto do FoMO também é visível nos relacionamentos sociais. Hodkinson (2019) argumenta que o simples facto de um telemóvel tocar pode originar FoMO, visto que ê indivídue sente que tem de atender imediatamente para não perder uma oportunidade, desviando o foco do ambiente que está inseride. Da mesma forma, é importante destacar o impacto do FoMO na saúde mental.  Segundo Przybylski et al. (2013), o FoMO tem sido associado a níveis elevados de ansiedade, stress e insatisfação com a vida, sendo considerado uma forma de dependência das tecnologias, dado que leva as pessoas a passarem cada vez mais tempo nas redes sociais.

E em específico na vida académica? O fenómeno conhecido como Fear of Missing Out (FoMO) tem um impacto significativo na vida des estudantes, influenciando diversos aspetos como o seu desempenho, bem-estar e saúde física e mental. Um estudo realizado por Milyavskaya et al. (2018) demonstrou que ês estudantes experienciam frequentemente o FoMO, particularmente no final do dia e da semana, durante a realização de tarefas importantes, como estudar ou trabalhar. Este medo de estar a perder algo está associado a uma série de consequências negativas, incluindo aumento do afeto negativo, cansaço, stress, sintomas físicos e diminuição da qualidade do sono. Outra pesquisa sugere que estudantes com níveis elevados de FoMO tendem a passar mais tempo na Internet, verificando constantemente o que está a acontecer no seu ambiente virtual (Deniz, 2021). Quando éstes percebem que não estão incluídes nas atividades organizadas pelês sues conhecides, podem evitar relações sociais e este comportamento pode levar a uma diminuição da autoeficácia social (capacidade de iniciar e manter estas relações). Além das consequências emocionais e sociais, o FoMO também tem implicações diretas no seu desempenho académico. Por exemplo, níveis elevados de FoMO estão associados a comportamentos académicos inadequados, como copiar nos testes e o plágio, e a comportamentos de risco, como o consumo de álcool e drogas ilegais (McKee et al., 2022). Este fenómeno é exacerbado por fatores como a situação de residência, o estatuto socioeconómico e o género, que podem influenciar a intensidade desses comportamentos.

O FoMO, quando agravado pelo uso excessivo dos telemóveis, pode ainda prejudicar a qualidade do sono des estudantes e, por sua vez, afetar negativamente a concentração, o desempenho académico e o bem-estar geral déstes (Li et al., 2020).  É de salientar que o FoMO está também correlacionado com a distração e o desinteresse na aprendizagem, o que pode comprometer mais o sucesso académico (Al-Furaih & Al-Awidi, 2020). Segundo Alabri (2022), o FoMO é impulsionado principalmente pela necessidade de pertença e está fortemente correlacionada com o uso de redes sociais e, consequentemente, com níveis mais elevados de FoMO. Esta necessidade de pertença explica uma parte significativa da variação no FoMO, indicando que o desejo de estar incluído e de evitar a exclusão social pode intensificar o medo de estar a perder algo.

Um estudo realizado por Alutaybi et al. (2020), expôs algumas estratégias para diminuir os impactos causados pelo fenómeno. Em primeiro lugar, definem o “estágio de preparação” que consiste na expansão da consciência sobre o FoMO, bem como estender as diferentes formas dessa sensação, isto é, entender como se sentem quando a situação acontece. As pessoas procuram gerir o FoMO relacionado às redes sociais, seja por falta de conhecimento sobre como ocorre ou por dificuldades em implementar mudanças. A consciencialização é promovida através da classificação de FoMO e de um processo de autoavaliação, onde as pessoas identificam os sintomas que sentem nessas situações. Essa etapa prepara-ês para os dois próximos passos: o planeamento para gerir o FoMO e a ação (Alutaybi et al., 2020). Esta etapa visa ajudar os indivíduos a lidar com o FoMO, fornecendo medidas técnicas, como estar offline e não responder automaticamente, e sociais, como diálogo interno, gestão de expectativas e técnicas de autocontrolo. Este planeamento objetiva identificar e corrigir distorções cognitivas que alimentam o FoMO e adotar estratégias para prevenir recaídas. Já a ação passa por implementar as técnicas e medidas pensadas no ponto anterior (Alutaybi et al., 2020). De seguida, existe a fase da avaliação, que diz respeito ao momento em que as pessoas refletem sobre as medidas que funcionam para elas e as que podem vir a ser implementadas. Já o empoderamento é a etapa que passa por perceber quais os desafios que dificultam a gestão do FoMO. Colocas as necessidades dês outres acima das tuas? Isso pode ser um obstáculo. Por fim, o estádio da revisão procura fazer com que as pessoas respondam às questões: “O que foi melhorado?”, “Consegui lidar com o meu FoMO?”  (Alutaybi et al., 2020).

De forma mais prática, as estratégias para combater o FoMO passam por consciencializar-se das causas que levam ao sentimento, construir ferramentas tanto emocionais como técnicas para amenizar ou até mesmo deixar de o sentir, e perceber se essas estratégias estão a funcionar ou não.

Em suma, o FoMO é um fenómeno cada vez mais comum, especialmente entre estudantes, e pode ter impactos profundos na vida académica, emocional e social. No entanto, existem várias estratégias, como a consciencialização, a autoavaliação e técnicas de autocontrolo, que podem ajudar a combater estes efeitos negativos. Ao implementar estas abordagens e adicionando uma pitada de apoio psicológico especializado, é possível melhorar o bem-estar geral e o desempenho académico, e também, promover um equilíbrio saudável entre a vida online e a vida real.

Referências bibliográficas

Alabri, A. (2022). Fear of missing out (FOMO): The effects of the need to belong, perceived centrality, and fear of social exclusion. Human Behavior and Emerging Technologies, 2022(1), 4824256. https://doi.org/10.1155/2022/4824256

Alutaybi, A., Al-Thani, D., McAlaney, J., & Ali, R. (2020). Combating fear of missing out (FoMO) on social media: The FoMO-R method. International Journal of Environmental Research and Public Health, 17(17), 6128 https://doi.org/10.3390/ijerph17176128

Al-Furaih, S. A. A., & Al-Awidi, H. M. (2020). Fear of missing out (FoMO) among undergraduate students in relation to attention distraction and learning disengagement in lectures. Education and Information Technologies, 26(2), 2355–2373. https://doi.org/10.1007/s10639-020-10361-7

Argan, M., Argan, M. T., & Gamze, İ. (2018). I wish I were! Anatomy of a fomsumer. Journal of Internet Applications and Management, 9(1), 43-57. https://doi.org/10.34231/iuyd.407055

Cambridge Dictionary. (n.d.). FOMO. In Cambridge dictionary online. Cambridge University Press. Retrieved September 13, 2024, from https://dictionary.cambridge.org/dictionary/english/fomo

Deniz, M. (2021). Fear of missing out (FoMO) mediate relations between social self-efficacy and life satisfaction. Psicologia: Reflexão e Crítica, 34: 28. https://doi.org/10.1186/s41155-021-00193-w

Hodkinson, C. (2019). ‘Fear of missing out’ (FOMO) marketing appeals: A conceptual model. Journal of Marketing Communications, 25(1), 65-88. https://doi.org/10.1080/13527266.2016.1234504

Li, L., Griffiths, M. D., Mei, S., & Niu, Z. (2020). Fear of missing out and smartphone addiction mediates the relationship between positive and negative affect and sleep quality among Chinese university students. Frontiers in Psychiatry, 11. https://doi.org/10.3389/fpsyt.2020.00877

McKee, P. C., Budnick, C. J., Walters, K. S., & Antonios, I. (2022). College student Fear of Missing Out (FoMO) and maladaptive behavior: Traditional statistical modeling and predictive analysis using machine learning. PLoS ONE, 17(10), Article e0274698. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0274698

Milyavskaya, M., Saffran, M., Hope, N., & Koestner, R. (2018). Fear of missing out: prevalence, dynamics, and consequences of experiencing FOMO. Motivation and Emotion, 42(5), 725–737. https://doi.org/10.1007/s11031-018-9683-5

Przybylski, A. K., Murayama, K., DeHaan, C. R., & Gladwell, V. (2013). Motivational, emotional, and behavioral correlates of fear of missing out. Computers in Human Behavior, 29(4), 1841-1848. https://doi.org/10.1016/j.chb.2013.02.014

Riordan, B. C., Flett, J. A., Cody, L. M., Conner, T. S., & Scarf, D. (2021). The fear of missing out (FoMO) and event-specific drinking: The relationship between FoMO and alcohol use, harm, and breath alcohol concentration during orientation week. Current Psychology, 40(9), 3691–3701. https://doi.org/10.1007/s12144-019-00329-4

Tanhan, F., Özok, H. İ., & Tayiz, V. (2022). Fear of missing out (FoMO): A current review. Psikiyatride Guncel Yaklasimlar, 14(1), 74-85.https://doi.org/10.18863/pgy.942431