Bruno Lage ultrapassou o primeiro teste com distinção. A goleada imposta ao CD Santa Clara, principalmente no Estádio da Luz e cerca de uma semana depois de ser apresentado como substituto de Roger Schmidt, deixou o universo do Benfica com a esperança de que o treinador português pudesse ter o impacto que teve na temporada em que foi campeão nacional.
Esta quinta-feira, porém, o teste tinha uma espécie de segunda versão com direito a perguntas novas. O Benfica viajava até Belgrado para enfrentar o Estrela Vermelha na primeira jornada de uma nova Liga dos Campeões e tinha noção de que, tendo em conta um sorteio que vai obrigar a confrontos com FC Barcelona, Bayern Munique e Atl. Madrid, a diferença entre uma vitória e um empate poderia ser a diferença entre um apuramento ou uma eliminação.
Neste contexto e já com Fredrik Aursnes, que recuperou de lesão e viajou para Belgrado, Bruno Lage não fazia alterações ao onze inicial que venceu o Santa Clara e mantinha a aposta em Aktürkoğlu e Rollheiser, com Florentino a fazer dupla com Kökçü no meio-campo. Do outro lado, num Estrela Vermelha que é líder na Sérvia e que na temporada passada ficou pela fase de grupos da Liga dos Campeões, Vladan Milojević tinha o ex-Vitória SC e SC Farense Bruno Duarte como referência ofensiva e Silas, Ivanic e Olayinka no apoio.
Ora, ao contrário do que aconteceu contra o Santa Clara no último jogo, o Benfica entrou afirmativo na partida; o bloco alto da equipa portuguesa jogava alto, pressionava, e impedia o Estrela de conseguir construir jogadas de ataque. Por seu turno, os homens de Bruno Lage iam-se aproximando diversas vezes da área adversária.
A supremacia das águias acabou por se materializar à passagem dos nove minutos: Di María desequilibrou na direita e tirou um adversário da frente para depois soltar Alexander Bah, que foi até à linha de fundo cruzar prensado para o poste mais distante e ver Aktürkoğlu encostar para abrir o marcador.
O Estrela Vermelha despertou com o golo sofrido e começou a ameaçar a área benfiquista, beneficiando também de algum recuo por parte do adversário: aos 18 minutos, Bruno Duarte obrigou Trubin a aplicar-se após um remate de fora da área.
Numa altura em que os sérvios pareciam estar a crescer, a equipa viu-se sem Mimovic, que saiu devido a lesão. Quando o Benfica voltava a subir no terreno, criava grandes dificuldades ao Estrela logo desde a sua zona defensiva. Numa dessas ocasiões, as águias ganham um livre frontal, que Kökçü, com classe, aproveitou para fazer o 0-2, levando assim à loucura os adeptos benfiquistas que se deslocaram a Belgrado.
Pode-se dizer que o Benfica marcou no momento certo e reduziu o ímpeto do adversário, o que lhe permitiu controlar o jogo até ao intervalo, não se livrando, contudo, de perder Alexander Bah devido a lesão, o que promoveu a estreia de Issa Kaboré.
Nenhum dos treinadores fez alterações ao intervalo e o Benfica teve algumas dificuldades para recuperar o conforto que tinha tido durante a primeira parte, com o Estrela Vermelha a demonstrar outra capacidade para ter bola, estar no meio-campo adversário e impedir que os encarnados soltassem a velocidade na profundidade. A assistir a isso mesmo, Bruno Lage mexeu ainda antes da hora de jogo e lançou Fredrik Aursnes no lugar de Rollheiser, que não estava num dia particularmente inspirado.
Assim sendo, Kökçü subiu no terreno e passou a atuar nas costas de Pavlidis, mas nem o fortalecimento do meio-campo através de Aursnes fez com que o Benfica recuperasse o controlo do jogo com posse de bola. Os encarnados atuavam na expectativa, oferecendo a iniciativa ao Estrela Vermelha para depois soltar o contra-ataque, e ficava claro que os sérvios apostavam essencialmente na ala esquerda e nas fragilidades que Issa Kaboré ia demonstrando. Tanto que Bruno Lage, a dada altura, colocou Aktürkoğlu na direita e Di María na esquerda para que o turco ajudasse o lateral a defender.
A mudança do treinador encarnado acabou por revelar-se muito importante. A partir do momento em que o avançado turco foi para o lado direito, o Estrela Vermelha deixou de conseguir atacar pelo lado esquerdo e Issa Kaboré não voltou a ficar tão exposto, com Aktürkoğlu a servir como uma espécie de primeiro tampão na zona do meio-campo. Mas Vladan Milojević ainda lançou Milson, Ndiaye e Luka Ilic e os sérvios conseguiram mesmo reduzir a desvantagem, com o primeiro a aparecer isolado na cara de Trubin e a atirar rasteiro já perto do fim, aos 86’.
Bruno Lage acabou o jogo a pôr as trancas à porta, com Jan-Niklas Beste, Leandro Barreiro e Zeki Amdouni, e acabou por conseguir blindar os três pontos. O Benfica ainda sofreu, mas conseguiu vencer o Estrela Vermelha em Belgrado e entrou a ganhar no novo formato da Liga dos Campeões. Aktürkoğlu e Kökçü chegaram a dar o mote para um autêntico banho turco dos encarnados, mas a verdade é que a primeira parte foi apenas uma cortina de vapor para uma equipa que ainda não consegue ser constantemente superior durante 90 minutos.
Nota para o facto de Bruno Lage se ter aproximado da zona onde estavam os adeptos do Benfica e ter festejado vigorosamente. O técnico continua a tentar reaproximar o banco da bancada, restabelecendo relações danificadas, algo que será certamente benéfico para o futuro do clube, em geral.
Homem do jogo
Depois de uma temporada algo oscilante – principalmente depois da entrevista polémica -, o médio internacional turco arrancou a época da melhor maneira e, com Bruno Lage no comando técnico das águias, parece ter uma nova vida. Mais importante como elo de ligação entre o meio-campo e o ataque, o turco mostrou-se fortíssimo nos duelos e ainda foi protagonista quando marcou um golaço de livre direto.
Texto: Raúl Saraiva
Imagem: UEFA