Conhecidos pela famosa superstição dos 7 anos de azar a quem os partir, os espelhos representam um dos poucos meios que nos possibilitam observar o nosso próprio reflexo com os nossos próprios olhos.
Normalmente, eles costumam estar colocados em locais estratégicos nas nossas casas, mas ás vezes questiono-me se isso é assim tão benéfico como aparenta ser. Consigo olhar diretamente para o Sol e não para o meu reflexo… Afinal, como seria viver numa casa sem espelhos? Seria mais inteligente? Seria um filho melhor? Seria mais autoconsciente? Seria menos inseguro?
Viver numa casa sem espelhos pode ser descrito como uma metáfora, ou até mesmo como um sinónimo, de uma sociedade perfeita, mas todos sabemos que isso é algo utópico, quase como uma realidade paralela: uma realidade onde, talvez, conseguisse economizar mais dinheiro; uma realidade onde falaria quando tivesse fome; uma realidade onde as paredes não respondessem de volta; uma realidade onde a minha pele fosse mais resistente; uma realidade que não me impedisse de ir a uma festa, não importando quem lá estivesse; uma realidade em que acreditaria nos elogios.
Os espelhos tornaram-se uma forma inconsciente de capitalizar as nossas inseguranças, e, ao que parece, muitos de nós têm consciência disso. O curioso é que inconscientemente, de modo geral, seguimos à risca os padrões exigidos pela sociedade, com o intuito de moldar-nos para a dita perfeição. Mas no outro lado do reflexo, há quem diga que, despedaçadas ou não, as nossas imperfeições são o que nos afastam da homogeneidade atual, tornando-nos perfeitos numa outra ótica.