Há calêndulas naquele muro. Iguais às de lá de casa, só que diferentes. De cada vez que as olho, sorrio sem precisar de mais nada, parecem as do meu quintal.
Numa planta nunca vem uma só flor, existe sempre uma família de duas ou três. Talvez para contrastar com a pessoa sozinha que sou, como um elo entre mim e elas, de alguma forma.
São iguais porque são cor de laranja, têm a mesma composição e a mesma altura, por norma. Mas são diferentes das de lá. Nunca as tinha visto num muro, nunca as tinha visto destoar tanto como cá porque nunca lhes tinha dado tanta atenção como cá dou.
Cá, dou-lhes atenção porque me fazem lembrar o lá. Lá onde se está bem. Lá onde a tonalidade das calêndulas não empobrece nem murcha.
Lá não há parques de estacionamento, canteiros bonitos ou cafés com um menu cheio de nomes esquisitos. Não se veem mochilas às costas, nem obras a acontecer e a irritar os habitantes. Os carros não fazem fila nunca. O campo de futebol nem marcas no chão tem e os postes das balizas estão enferrujados, vejam bem, ninguém o usa. Mas há lá algo que eu ainda não sei bem descrever ou reconhecer, e por isso custa explicar – e fazer parecer real. Acho que é um sentimento, mas ainda não tenho nome para lhe dar.
Vou associando palavras ao meu mundo de lá – penso em “arvorezinhas” ou no alecrim, que entendo tudo e tudo é calma. Mas assim só eu percebo do que estou a falar, porque naquele mundo só eu habito e não falo a ninguém.
Mas é mesmo isso, só eu o preciso de perceber. E sentir, sentir também faz falta. E que encanto isso me tem.
Diana Batista