Título estranho, eu sei, e até vem a calhar, logo hoje que é sexta-feira… quero já lançar o repto, e esclarecer aqui que, este texto não vai promover nenhuma escapadela de final de semana a uma ilha paradisíaca. A não ser que esta esteja a 35km!
Um fim de semana é, para muitas pessoas, o espaço de descanso dos cinco dias de uma rotina habitual, escolar (para os jovens), ou laboral (para os adultos, ou pelo menos alguns). Para as crianças o “brincar” da semana costuma estender-se até domingo, mas com um cariz especial, porque não há nada como a diversão em família.
Mas e quando esta constante é quebrada? Como reage uma criança a uma fragmentação da rotina, ao ver que é obrigada desde cedo a viver num ritmo diferente do resto dos amigos? Caso se identifiquem com isto, eu não posso falar por vocês, mas posso falar por mim, que sempre vivi num vaivém constante, semana sim, semana não.
Ser fruto de um amor que pouco tempo teve para florir, pode-nos fazer sentir que se calhar não temos um lugar neste mundo superpopulado, e que viemos aqui parar por engano, de uma corrida que nunca quisemos ganhar. Sei bem como é. Desde sempre que vivo o final de semana em azáfama, sem qualquer culpa, sou um réu consequente do falhanço de uma relação. Ah, e tenham calma, eu hoje vivo bem com isto, mas nem sempre foi assim.
O meu eu de três anos já era cético quanto ao fim de semana porque, sem ainda perceber o contexto em que estava inserido, passava todas as sextas-feiras cheio de dúvidas de onde aqueles dias iriam acabar. Cada semana tinha a sua história. Entre trocas de dias e compensação de outros tantos, estavam sonos de exaustão em viagens que se foram tornando habituais ao quinto dia da semana. Nasci com um bilhete vitalício que inclui viagens, de 35km, de quinze em quinze dias, todos os meses. É um privilégio, que uma criança não tem a capacidade para ver. Habituei-me a estar longe dos meus colegas fora do âmbito escolar, por essa distância obrigatória. Quando a distância não era física, tornava-se mental. Cresci assim, com alguma frustração de ser obrigado a estar longe daquilo que eu achava ser normal na vida de uma criança.
Mas, por outro lado, ganhei muito mais do que aquilo que o Diogo de três anos alguma vez imaginaria. Sabem aqueles primos e tias que, normalmente, são afastados e dificilmente conseguimos estabelecer uma ligação? Pois bem, o habitual vaivém incomum a que era submetido, fez com que todos esses familiares fossem presentes na minha vida, mesmo partilhando uma fração mínima do meu tempo com eles. Família é isto. E eu tive sempre tive duas, no meio do caos e da maratona de kms, era a família que levava a que tudo fosse menos cansativo.
As seis da tarde das sextas-feiras eram a tempestade de sempre estar longe de uma parte de mim, que precedia a bonança da paz e do equilíbrio, que me levaram a aprender e valorizar cada momento com todos aqueles que contam para mim. Não sei bem que rumo teria levado a minha vida se o amor dos meus pais tivesse dado certo. Sei apenas, que seria menos cansativa, certamente mais fácil, e bem menos valiosa.
O “não vou estar cá” é quase a minha frase de assinatura, mas também me faz querer ser melhor sempre que por “cá estou”. Fui-me cultivando sempre com tudo que me davam e no meio de umas dezenas de km e fruto de uma desunião, cresci.
Foi tudo tão rápido que parece que foi a semana passada que, ao chegar a “casa”, ouvi a da minha mãe a questionar o porquê de ter as calças, que vesti para a viagem, todas sujas nos joelhos com marcas de relva. Habituei-me a viver nesta correria que acaba por compensar bem mais do que aquilo que cansa (bastante). Toda esta tempestade deu-me duas casas, uma mais habitual que outra, mas também me fez perceber que “casa” é onde há amor e família.
Antes tentava fugir aos fins de semana, e hoje imploro para que venham, porque, seja onde for, sei que vai ser bom voltar a “casa”.
Agora vou em viagem, e já sei bem onde vou parar… E o vosso fim de semana, vai ser onde? Espero que em casa!
Diogo Azevedo