A tauromaquia, ou para aqueles que estão sentados no sofá com demasiada preguiça para procurar o significado: touradas, é um tema que tem vindo a causar polémica neste país, onde controvérsias são servidas ao pequeno-almoço. De um lado da infinda linha que separa os ditos “cultos” dos então “não cultos” temos os apoiantes dos festivais (que de “festa” não têm nada) marcados pelo espetar de lanças no lombo de animais indefesos versus aqueles que são contra este tipo de crueldade, detentores de uma “costela” de sensibilidade.
“Deputados chumbam proposta de abolição de touradas do PAN”. Mesmo quando pensava que o nosso país podia dar um passo em frente ele mostra-me que tal não é possível, dando dois para trás. Sim, as touradas fazem parte das tradições portuguesas há centenas de anos, 760 anos para ser precisa, e sim são uma forma de cultura, no sentido de que marcam a identidade de Portugal. Mas o ser humano evolui (pelo menos alguns de nós), os tempos mudam, porque não mudar as tradições também? Eu respondo: Porque somos retrógrados. Porque não entendemos que o futuro está à nossa frente e não atrás de nós. Porque insistimos em ficar presos ao passado e não acompanhar a evolução, como o resto da Europa. Porque não nos cansamos de sermos confundidos com Espanha, de sermos sempre os “pequeninos”.
Mas como é que as pessoas podem alterar este pensamento se quem governa o país não altera? Como é que se mudam as mentalidades dos submissos se os domadores não o fazem? “Iva desce para 6% nas touradas e permanece a 23% nos veterinários”. Acordar com notícias como esta só me faz perceber ainda mais o quanto estamos a caminhar no trilho errado. Quero levar a minha cadela ao veterinário, cuidar do cancro na bexiga que lhe apareceu recentemente, comprimidos atrás de comprimidos, ecografias e mais ecografias. Quero ajudar um ser vivo que esteve comigo desde os meus cinco anos. No entanto pago mais que um indivíduo que tem interesse em ver um animal “levar baile” para depois morrer. Assim, sem dó nem piedade. Criado com um único propósito. Procuro perceber o que vai na cabeça destas pessoas, se não têm qualquer compaixão pela vida animal. Procuro perceber como é que se acham no direito de fazer tal coisa a um ser indefeso e inocente, de se acharem “superiores”. Superiores na estupidez só se for. E é por isso que o meu coração salta de alegria quando algum touro fere gravemente um toureiro. Existe um célebre conceito dado a este tipo de acidentes: karma. Serei má pessoa? Talvez. Mas não sou pior que os autores destes jogos macabros, que se aproveitam da fragilidade e dependência alheias.
Contudo, no meio de toda esta realidade de pura maldade, existe alguma esperança. Um deputado socialista, Pedro Delgado Alves, está a tentar impor o uso de velcros no touro, impedindo, à partida, o animal de sofrer hemorragias. Não é uma solução satisfatória, mas é melhor que nada. É como pôr um penso numa ferida e não a desinfetar. Arrisco-me até a dizer que é como dar preservativos a um violador. Mas enquanto algo mais radical não se fizer, teremos de nos contentar com isto. Até porque nos está no sangue contentarmo-nos.
Aqui fica o desabafo de uma rapariga de 19 anos que desde cedo percebeu como funciona o seu país. Que fica triste em saber que aquele que poderia ser um excelente exemplo, é sim um exemplo do que não fazer. Temos tudo o que precisamos, só não temos vontade. É triste. Somos tristes.
Rita Magalhães