Pouco importa, pouco importa… Rumo aos oitavos à boa moda portuguesa

A equipa de todos nós avança para os oitavos de final de mãos dadas com “nuestros hermanos” (ambos com cinco pontos) e de regresso a casa estão a elétrica seleção de Marrocos e a sólida equipa iraniana de Carlos Queiroz, duas formações que venderam cara a qualificação para a seguinte fase. Portugal carimbou a sua passagem da forma a que mais no habituou nos últimos tempos: com um insípido empate. A Seleção Nacional cumpriu o objetivo principal, é verdade, mas as exibições da equipa das quinas não têm deslumbrado, longe disso. Aliás, os resultados têm sido sempre o que de melhor se pode retirar da prestação lusa na Rússia até ao momento. O futebol pouco atrativo praticado pela seleção portuguesa tem sido criticado, mas como os resultados têm sido positivos também há quem não se importe com a “nota artística”. A questão que se impõe é: tentar subir um degrau em termos de qualidade de jogo ou manter o pragmatismo? Qual o melhor rumo para levar Portugal à glória outra vez? Tem a palavra o Sr. Engenheiro Fernando Santos.

Portugal partiu para o Mundial reforçado pelo título europeu ganho e contar no seu grupo com o jogador mais voraz e decisivo do planeta, Cristiano Ronaldo, também ajuda mas mesmo assim o mundo do futebol nunca considerou Portugal como um dos favoritos à vitória final em território russo. Ao contrário do nosso primeiro adversário, a toda poderosa Espanha, mas nessa partida, CR7 deixou bem claro que há que contar com Portugal até ao fim. Com uma exibição absolutamente arrebatadora do nosso capitão, a equipa nacional conseguiu empatar com “La Roja” e os olhares viraram-se todos para Ronaldo e para a seleção portuguesa, mesmo que a exibição tenha sido, em termos coletivos, bastante apagada excetuando os minutos inaugurais da partida.

No jogo seguinte pedia-se mais à Seleção Nacional e os três pontos foram mesmo conquistados, porém a exibição foi um autêntico filme de terror. Mais um golo nos primeiros minutos do Bola de Ouro português e a partir de aí o jogo foi um teste constante à capacidade cardíaca de todos os portugueses. Marrocos monopolizou a posse de bola e quando não a tinha pressionou de uma forma agressiva e extremamente eficaz para a recuperar o mais rápido possível. Os comandados de Fernando Santos nunca conseguiam construir, criar ou ter simplesmente a posse da bola e até ao fim da partida nunca foram capazes de contrariar a pressão incessante dos marroquinos. A nosso favor esteve a pouca “arte” dos magrebinos para colocar o esférico no fundo das redes e contámos também com a inestimável ajuda de quem sempre aparece quando precisamos, São Patrício.

Para o último jogo, mais uma vez, ansiava-se por uma melhoria exibicional e ao mesmo tempo tentar o assalto ao primeiro lugar do grupo. Frente à equipa iraniana viu-se uma Seleção Nacional mais disposta a ter a bola, algo quase obrigatório tal era o espaço e o tempo oferecidos. Os centrais e William jogavam ao seu bel-prazer e Portugal conseguia, ainda que a espaços, criar algumas oportunidades. Carlos Queiroz apercebeu-se disso e colocou marcação homem a homem a William e Portugal ressentiu-se. Já a caminho do intervalo, surgiu de rompante Ricardo Quaresma com a sua habitual mas sempre mágica trivela e lá colocou Portugal na frente do marcador. A seleção das quinas teve, já na segunda parte, uma oportunidade soberana para aumentar a vantagem, mas desta vez Cristiano Ronaldo estava em dia não e falhou a grande penalidade. A partir desse momento, os pupilos de Fernando Santos nunca mais conseguiram controlar a partida, os erros sucediam-se e aos poucos a seleção do Irão levava o jogo para onde mais lhe convinha: transições rápidas e irritar os jogadores portugueses com o seu estilo duro e combativo. Tudo isto foi só um aquecimento para a montanha russa de emoções que se seguiu. Portugal ia vencendo e estava virtualmente no primeiro lugar do grupo porque a Espanha perdia com Marrocos, mas numa questão de escassos minutos, o grupo B virou-se do avesso. Quase simultaneamente, o Irão vê-se beneficiado com um penalty a favor, convertido de forma exemplar, e a Espanha marca o golo do empate já nos descontos. Portugal descia assim para o segundo lugar do grupo e o coração dos portugueses subia para a garganta, mas ainda houve mais! No lance imediatamente a seguir, a seleção iraniana rematou às malhas laterais da baliza portuguesa e quase carimbou a viagem de regresso a casa para a seleção portuguesa. Volte-face nos acontecimentos mas lá se conseguiu o desejado apuramento e para não variar foi muito sofrido, à boa moda portuguesa portanto. Os lusitanos evitam o que podia ter sido uma tragédia e continuam vivos no Mundial. Se com a seleção espanhola o resultado e respetiva exibição acabaram por ser aceitáveis tendo em conta o poderio adversário, nos dois jogos seguintes os resultados foram suficientes para seguir em frente sim, mas as exibições foram paupérrimas tendo em conta as diferenças entre Portugal e estas duas seleções. Foi notório que tanto Marrocos como o Irão mostraram sempre muita atitude e querer, por momentos até colocaram Portugal contra as cordas, mas jogaram sempre com a mente demasiado perto do coração e isso acabou por prejudicá-los. Por outro lado, Portugal mostrou-se sempre muito previsível e preso de movimentos, dependente dos rasgos individuais dos seus jogadores mais talentosos (e tem-nos com mais abundância e com mais qualidade quando comparados com essas duas esforçadas seleções) e isso acabou por ser suficiente para alcançar o objetivo principal.

No entanto, o nível de exigência para a seleção campeã europeia aumentou e por agora não se têm visto grandes melhorias. A Seleção Nacional nunca conseguiu impor o seu jogo ou controlar qualquer uma das três partidas, evidenciando sempre uma enorme dificuldade coletiva para assumir os jogos com bola. Transpareceu tremendas dificuldades, principalmente em ataque posicional onde não conseguiu fazer circular a bola, ligar o seu jogo e criar oportunidades de forma frequente, exibindo uma deficiente ocupação dos espaços e erros atrás de erros na tomada de decisão em vários momentos, consequentemente o pouco jogo interior evidenciado é igualmente gritante. É verdade que os centrais portugueses têm dificuldades na construção de jogo, por isso há que evitar que sejam eles a “pegar” no jogo. Então vejamos, com jogadores competentes e que se sentem confortáveis com bola em zonas mais recuadas como William, Moutinho e Adrien, acrescentam-se ainda jogadores criativos e com capacidade para jogar entrelinhas como Bernardo Silva, Bruno Fernandes e João Mário, parece claro que há espaço para um futebol muito melhor que o apresentado até agora, principalmente no plano ofensivo. Para além disso, Fernando Santos tem ao seu dispor um grupo de jogadores maleável em termos táticos e que se pode adaptar a diferentes planos de jogo. Por exemplo, se em vez de ter a iniciativa de jogo quiser apostar num jogo mais vertical e vertiginoso pode contar com os “aceleras” Gonçalo Guedes, Ricardo Pereira e Gelson Martins, com os sempre decisivos Quaresma e Ronaldo e com o único ponta de lança nos 23 convocados, André Silva. É notório também que a qualidade defensiva reconhecida à equipa portuguesa durante o passado Europeu não tem sido a mesma neste Mundial e qualquer seleção foi capaz de nos causar vários calafrios. A nível de individualidades, Portugal conta com um grupo com mais qualidade inclusive que o do último Euro, mas o problema reside em não conseguir pôr essa qualidade individual ao dispor de uma ideia coletiva bem trabalhada e assim o futebol praticado até agora não acompanha esse potencial nem entusiasma os portugueses. Finalizada a fase de grupos parece que Portugal ainda não tem uma ideia consolidada ou um fio de jogo visível e vai confiando unicamente nos rasgos individuais dos seus talentos.

Pede-se mais e melhor aos campeões europeus e a partir de agora no “mata-mata” qualquer erro pode ser fatal. Parece evidente que há espaço para melhorar nos vários momentos do jogo mas a verdade é que os resultados têm aparecido, será suficiente manter esta postura mesmo que as debilidades portuguesas estejam cada vez mais expostas? Ou a ideia a seguir tem que sofrer alterações para não deixar a Rússia de forma prematura? A bola não pára de rolar na Rússia e sábado os nossos olhares estarão todos em Sochi, venha o Uruguai!

Força Portugal!

Xavier Costa