No ano do seu 169.º aniversário, a Livraria Branco abriu as suas portas ao Torgador para, na pessoa de Alfredo Branco, nos dar o conhecer um pouco mais de si.
Alfredo, que tem atualmente 74 anos, cresceu no meio dos livros e lamenta as diferenças entre o passado e o presente.
A livraria, sediada na Rua Direita, o coração de Vila Real, vê-se agora ameaçada pelas novas tecnologias e pelo preenchido quotidiano da população.
O Torgador (OT): O que o levou a assumir a gerência da livraria?
Alfredo Branco (AB): A livraria é de família. Foi fundada pelo meu bisavô e na altura, quando o meu pai faleceu, eu andava a estudar e os meus irmãos estavam fora e tive que assumir a gerência da livraria. Quanto mais não fosse para dar continuidade, não só à livraria como à família.
OT: Quais são as principais diferenças que nota de antigamente para os dias de hoje?
AB: Era tudo diferente, o público era diferente… Em primeiro lugar havia muito menos livros e muito menos editoras, o cliente entrava e pedia sempre um conselho, obrigando-nos a estar sempre dentro dos textos, enquanto agora o cliente entra e já sabe o que quer. O cliente chega e pergunta por este ou aquele autor… é raro nos dias de hoje vir alguém que peça a opinião do livreiro.
OT: E o quê é que a livraria faz para acompanhar a evolução dos tempos?
AB: A livraria vai tentando estar atualizada nas edições que vão saindo, ter aqueles livros mais procurados e depois estou ainda a dedicar-me um pouco à qualidade do livro, do texto, fugir um pouco daquela leitura light em que o livro sai e dali a oito dias já ninguém fala nele, ninguém o conhece.
OT: De que forma é que, com o surgimento das grandes superfícies comerciais, a afluência de pessoas à sua livraria foi afetada?
AB: Afetou porque as pessoas auto-mentalizaram-se de que as coisas nas grandes superfícies são mais baratas e é um engano. As pessoas partem do princípio que as coisas são mais baratas, mas é certo que também há coisas mais caras. Aliás, é raríssimo ver alguém que vai a um supermercado, faz as compras e depois confere. Adotaram esse sistema que é mais cómodo, tem lá tudo porque compram um quilo de arroz e acabam por trazer também um livro, mas a verdade é que é diferente. Não tem aquele contacto que nós tínhamos, um contacto mais personalizado com o cliente, mas agora o cliente também pouco liga a isso. Tudo se alterou…
OT: Pensa que os jovens têm hábitos de leitura regulares ou acha que esta prática está em decadência?
Isso é uma pergunta engraçada porque por um lado eu penso que os jovens cada vez leem menos porque compram menos, mas depois tem outra vertente, os jovens também leem porque se vendem livros em qualquer sítio. Nos quiosques, nos CTT, até há livros que vêm de oferta com os jornais e o jovem em si, para além de procurar opções mais baratas, procura edições de bolso que antigamente não havia.
OT: E quais acha que são os motivos desta decadência?
AB: Eu acho que o hábito de leitura caiu fundamentalmente pelas novas tecnologias: pela internet, o iPad, o iPhone, etc. Os jovens de hoje em dia, se tivessem em casa uns pais que lhes incutissem o hábito da leitura, até liam por não ter outro entretenimento ou mesmo por iniciativa própria, mas hoje em dia têm os dias muito mais ocupados. Se antigamente eu saÍa da escola, vinha fazer os deveres e ia brincar, nos dias que correm não é assim… Agora saem da escola e vão para a natação ou para o ballet, o tempo está todo preenchido e não há aquele momento da refeição com a família, está o pai com o iPad e o filho com o telemóvel. Tudo isto contribuiu para que a leitura ficasse para terceiro ou quarto plano.
Anabela Mendes
Fotografia: O Torgador (Hugo Garrido)