A palavra “voluntariado” tem perdido o seu significado ao longo do tempo. O que antes era considerado um ato raro tornou-se, agora, tão vulgar ao ponto de perder toda a sua importância.
E digo isto porquê? Atualmente, quando vemos um cartaz ou qualquer outro tipo de publicidade sobre voluntariado, ocorre-nos pensamentos do género: “Agora todos fazem voluntariado, é moda” ou “De certeza que terá muita adesão, nem vale a pena inscrever-me.” E o número de participantes reflete-se nessas mesmas crenças – a ideia de que se o outro vai, eu já não preciso de ir.
Mas acreditem, faz toda a diferença ir. E não, não me estou a referir às estatísticas! Ser mais um na lista de participantes não muda absolutamente nada. Mas tu certamente irás mudar. A maneira como as coisas te afetam é inexplicável. Poder presenciar a gratidão das pessoas que ajudamos não tem preço.
No último voluntariado em que participei, foi-nos concedida a oportunidade de visitar doentes impossibilitados de sair de casa. É de admirar a força que essas pessoas demonstram. Queixamo-nos tantas vezes do pouco que temos e da infelicidade em que vivemos. Olhando para estas pessoas, percebemos a sorte que temos. Não é só a pessoa doente que sofre, são todos os que a rodeiam. Familiares que deixam de ser reconhecidos, amigos que vêm as suas memórias desaparecer, funcionários desiludidos por não conseguir gerar uma evolução. Falamos mal da vida quando devíamos agradecer o que temos.
Um exemplo de vida é Américo Lisboa Azevedo, um senhor de 54 anos diagnosticado à nascença com paralisia cerebral e que, mais tarde, aos 17 anos ficou cego no dia de Páscoa. Tinha tantas razões para desistir, para deixar de acreditar na vida, mas não o fez. Afinal ainda tinha tanto para viver, só precisava de “aprender a ver com o coração” e assim foi. Aprendeu a ouvir, a dar atenção aos pormenores, a sentir verdadeiramente. E é feliz assim. Casou, tem dois filhos e várias conquistas até hoje. Garante que se pudesse nascer de novo e ser completamente saudável, não o faria, pelo simples facto de que não teria aprendido a dar valor às coisas como dá atualmente.
Este é o mesmo pensamento de muitos dos idosos de um lar que visitei. Apesar de nem sempre a vida lhes ter sorrido, vivem felizes e encarando os restantes dias como oportunidades de espalhar felicidade. Cada história que contam, deixa marca e torna-se um incentivo para enfrentarmos os nossos dias. Dentro daquele lar existem vidas tão diferentes, caminhos paralelos que vão dar ao mesmo lugar. E não importa se têm filhos, se são casados, se não têm família. Aquele lar transformou-se numa família. Entre brigas, lágrimas e dor, os sorrisos sobressaem e as gargalhadas fazem-se ouvir.
É arrepiante assistir à realidade destas pessoas. Vê-las presas a cadeiras de rodas, não conseguirem alimentar-se sozinhas, não reconhecerem as pessoas à sua volta, pedirem uma visita de familiares são atitudes que não consigo presenciar sem sentir lágrimas nos olhos. E ainda bem que me fazem sentir assim. Obrigam-me a colocar-me no seu lugar e pensar que, daqui a uns anos, poderei ser eu a precisar de atenção.
Alexandra Fonseca