É indubitável que estamos a viver um período de enorme intolerância, a cultura do cancelamento cresce com algum fulgor entre nós. Um medo constante de opinar, de posicionar-se; viver sob a mira cruel da internet parece tortura.
Problematizamos o problema, destilamos o ódio gratuito em busca de alguma satisfação momentânea. Por vezes, é assustador a posição de alguns que, simplesmente, esquecem que estamos a tratar de pessoas. Somos seres humanos afinal de contas, merecemos o direito da dúvida. O aprendizado é orgânico e constante, todo processo de desconstrução é penoso, mas é através de boas discussões que chegamos a bons consensos.
Há quem abuse do livre arbítrio. As fobias e os preconceitos andam na boca daqueles que perduram por meio do ódio, ignorantes que anseiam por alguma atenção. Infelizmente, uma realidade que se esconde e que muitas vezes preferimos não ver. Mas o cancelamento põe em causa tantas questões problemáticas. Quando cancelamos, escolhemos a omissão, fugimos dos confrontos e esquecemos que, é no calor dos confrontos que nascem boas ideias. Não obstante, vale ressaltar que estamos presos nesta corrente constante de informação, construímos as nossas opiniões de maneira superficial e, por isso, tornam-se opiniões frágeis. Como é óbvio, estou a fazer generalizações, se estamos a falar da sociedade, estamos a falar de nós próprios como um plural. Um conjunto.
Tristemente, os preconceitos que hoje são muito discutidos são um traço da humanidade. Faz parte da nossa história, é preciso compreender e não simplesmente “cancelar”. Negá-lo, é negar o nosso passado, a nossa história. Quando somos intolerantes, a ideia de debate é afastada, isto é, ficamos num limbo. Agir como aliados daqueles que não são privilegiados, é saber dar a voz, é saber ter empatia e compreender que mudanças sociais levam tempo.
Por fim, posso estar errada, mas acredito que é por meio da massificação do diálogo, é através da informação que derrubamos a barreira do ódio. Intolerância gera intolerância, violência gera violência e outros clichés que são incutidos em nós, porém passam despercebidos. Como palavras vazias.
Giovanna Querubim