“À falta de melhor…”

“À falta de melhor…”


Este artigo foi escrito ao abrigo do antigo acordo ortográfico

Tenho a honra de ser o último redactor do Departamento de Crítica e Opinião
a publicar no ano de 2025, e pretendo fazê-lo com um artigo mais sintético, mais
ligeiro e menos aborrecido que o costume. Apenas quero deixar os senhores
leitores com uma mensagem muito simples:


Dentro de dois dias será marcado o término das Bodas de Prata do Novo
Milénio. Iremos avançar para o segundo de quatro quartos que o 21° Século do
Calendário Gregoriano tem para nos oferecer, e é nestas alturas que se costuma
fazer uma reflexão acerca do que passou e uma previsão do que virá à frente. Eu,
que estive presente em aproximadamente 75,438% deste período, considero-me
na posição de poder levar a cabo esta tarefa nesta Coluna onde a malta d’O
Torgador, volta e meia, deixa que eu vá dizendo umas coisas.


O ano de 1999 acabou numa nota difícil de caracterizar: se, por um lado,
havia esperança na Nova Era que estava prestes a começar; por outro, havia o
receio de que, entre as promessas de fim do Mundo e o “Crash do Ano 2000”, a
coisa desse para o torto. Vai-se a ver e o Mundo não acabou nem houve
computadores a voltar a 1900, então o novo Milénio arrancou com o optimismo a
mil e a extinção do medo, sentimentos que, felizmente, se mantêm até aos dias de
hoje… Isto seria uma forma muito bela de terminar um texto de fim-de-ano, não
fosse a afirmação que eu acabei de proferir completamente falsa! Na verdade, o
medo, a incerteza e o pessimismo só aumentaram, muito motivados pela
instabilidade política, pelas sucessivas crises económicas, pela crescente
preocupação com o aquecimento global, pela guerra, etc. Só este ano – que, vale
lembrar, teve apenas 365 dias – foi suficiente para perder o Ozzy e o Rob Reiner;
assistir ao Trump a iniciar um segundo (e ainda pior) mandato como Presidente dos
Estados Unidos; ver o P. Diddy a receber APENAS 50 meses de cadeia; receber uma
lista do Epstein que só acusa o Bill Clinton, o Winnie The Pooh e a tarja preta;
perceber a viragem brusca à extrema-direita que o nosso panorama político está a
sofrer; e ver a Zoë Saldaña a ganhar o Óscar de Melhor Actriz Secundária pela sua,
na melhor das hipóteses, mediana actuação no pior filme de 2024, “Emilia Pérez”,
quando a única actriz com mérito suficiente para se sagrar vencedora nesta
categoria era a Ariana Grande. A tendência é esta: irmos numa rota descendente
até ao fundo do poço.


Mário Cesariny disse, certa vez, que “Só há três maneiras de viver neste
mundo: ou bêbado, ou apaixonado, ou poeta.”; eu acredito que, no meio da
confusão em que o Mundo se transformou, se deveria acrescentar uma quarta: “…
ou rindo”. O início do Milénio foi forte neste sentido: a Arte do Humorismo estava
em alta, com muitos nomes incontornáveis a aparecer, tanto nacional como
internacionalmente, e o Cinema de Comédia passava por uma nova Era Dourada,
sendo pautados por clássicos que não mais foram suplantados, como
“Superbaldas”, “O Virgem de 40 Anos”, “Um Sogro do Pior”, “O Repórter: A Lenda de
Ron Burgundy”, “Tempestade Tropical” e “Click”, só para referir alguns. Hoje em dia,
no entanto, o que se verifica é um Humorismo nas ruas da amargura, num estado
moribundo que me preocupa bastante. O segredo para inverter esta tendência,
acredito, é tornar a rir. É valorizar de novo o Humor como forma de entretenimento,
mas também como arma. Porque rir pode não significar estar feliz, mas parece. E
se nos convencermos de que aquilo que parece pode vir a ser, acho que é possível
sonhar com um amanhã melhor!


Bom ano para todos, umas boas entradas e… nunca se esqueçam de rir!

Guilherme Gomes