O último debate do ciclo de 28 confrontos na corrida à Presidência da República ficou marcado por uma intensa troca de acusações entre Luís Marques Mendes e Henrique Gouveia e Melo. O frente-a-frente, transmitido esta noite pela TVI, centrou-se quase exclusivamente nos negócios do antigo líder do PSD, com o almirante a questionar a transparência do adversário e a classificá-lo como um “lobista”.
Luís Marques Mendes, apoiado pelo PSD, e Henrique Gouveia e Melo, sustentado por diferentes quadrantes políticos, protagonizaram assim o 28.º e último debate antes das eleições presidenciais, marcadas para 18 de janeiro.
O tema dominante foi a divulgação, na semana passada, da lista de 22 clientes de Marques Mendes. Gouveia e Melo afirmou manter “dúvidas” sobre a situação, defendendo que ainda existem “opacidades” e interesses por esclarecer, nomeadamente quanto à natureza da atividade profissional do candidato social-democrata.
Em resposta, Marques Mendes recordou os elogios que anteriormente fizera a Gouveia e Melo, mas acusou-o de ter mudado profundamente desde os tempos em que ganhou notoriedade durante a pandemia. Para o ex-comentador da SIC, o almirante “delapidou a sua popularidade” e passou a recorrer à “velha política das insinuações e suspeições”.
Marques Mendes acusou ainda Gouveia e Melo de agir por desespero face às sondagens, chegando a compará-lo a André Ventura. “Não trouxe nada de novo à política”, afirmou, acrescentando que o adversário se especializou na “politiquice”.
Por sua vez, Gouveia e Melo reforçou as acusações, considerando Marques Mendes um “facilitador de negócios” que “abre portas”. O militar sublinhou que sempre viveu dos seus salários, garantindo ter independência e liberdade, e rejeitou qualquer conflito de interesses do seu lado.
O debate manteve um tom elevado até ao fim, com acusações mútuas. Marques Mendes garantiu ter feito sempre um trabalho “honesto e limpo”, afirmando pagar os seus impostos e nunca ter sido alvo de qualquer acusação judicial. “Ninguém manda em mim”, respondeu Gouveia e Melo, rebatendo a ideia de que atua sob influência de terceiros.
No último minuto, o almirante dirigiu um ataque direto ao adversário, afirmando não ver nele os valores sociais associados ao PSD de Francisco Sá Carneiro. “Vejo alguém que protege os ricos”, disse, concluindo que não se revê, enquanto português, numa eventual Presidência da República liderada por Luís Marques Mendes.
Afonso Lordelo