É verdade que andamos cheios de coisas para fazer, sempre com pressa, sempre com a mentalidade de ser produtivo, de ter de fazer mais, mais e mais, e tudo o que fazemos não é o suficiente, e desperdiçamos tempo a fazer algo quando podíamos ter feito outra coisa melhor, e o dia está a acabar e ainda não fiz isto, e amanhã tenho de acordar mais cedo para acrescentar uma tarefa às mil e quinhentas que já tenho, (e talvez adicione mais algumas, porque a sociedade não para e eu não posso ficar para trás a descansar), para quando me for deitar ter o sentimento de dever cumprido e de que tenho a total certeza do que estou a fazer com a vida, e sem dúvida que não a estou a deixar escapar pelos dedos. Ou termino o dia deitada frustrada porque não consegui dar o check em todas as tarefas (irrealistas) que me propus a fazer, (porque certamente qualquer outra pessoa conseguiria, mesmo sem eu ter a certeza de como). Ou ainda termino o dia deitada frustrada porque fiz tudo em modo piloto automático e sinto que não foi o suficiente, porque vou ao telemóvel ver 2 minutos do dia de uma pessoa que eu não conheço de lado nenhum e vejo que ela fez muito mais do que eu, o que nos leva a concluir que: não fiz nada hoje.
Pois, então, posso dizer que o parágrafo acima soa a uma completa estupidez (em várias camadas), mas é exatamente assim que muitas vezes ecoa o nosso monólogo interior, ou a nossa linha de pensamentos, ou até o que um amigo ouve quando nós desabafamos, ou o que nós ouvimos quando um amigo desabafa para cima de nós.
Nos dias que correm, parece que vivemos num mundo conscientemente inconsciente, onde sabemos que o vemos através de um ecrã está bastante longe da realidade, e mesmo assim escolhemos acreditar, escolhemos a comparação das nossas 24 horas com poucos minutos completamente iluminados e editados de alguém do outro lado do mundo, e escolhemos sentir-nos mal.
Ainda mais por esta altura, fim de ano, onde muitos mostram o que alcançaram durante o ano, e as metas para o próximo. Por isso aqui estou eu para te dizer “Ei! Sejam lá quais forem as tuas ambições e os teus planos a seguir, ainda tens tempo! Não sei a tua idade, nem as ideias que te deixam com esperança de teres o teu futuro perfeito, mas o futuro está sempre a acontecer, (mesmo enquanto lês este texto, os segundos estão a passar, e isso não é algo necessariamente mau), e tens literalmente toda a vida para o conseguir.”
Além disso, é normal e necessário parares. Não tens de andar sempre a correr porque todos decidiram participar de uma maratona. Ainda podes respirar fundo e desacelerar o teu andar e observar o ambiente e as pessoas que te rodeiam, (já agora, alguma vez reparas-te em como aceleras o passo e “andas a correr” sem motivo?). E se demorares mais cinco ou dez minutos a chegar a casa porque abrandas-te, garanto-te que nada de catastrófico vai acontecer. Não sei quem te disse, mas não é obrigatório escolheres o caminho mais rápido, ainda podes sempre escolher o mais bonito, aproveitar a viagem, parares quando te sentires cansado, olhar a vista (e não aqueles que passaram à tua frente), e simplesmente viver de uma forma mais calma e consciente.
Ainda tens toda a tua vida pela frente, e não tens de ser produtivo em toda a sua extensão. Certas vezes, para tu saberes o que realmente queres fazer com ela, e teres a certeza de como realmente queres viver, (e não apenas fazer as mesmas ações que toda a gente faz, “viver” como toda a gente vive, sem te aperceberes que é exatamente isso que te deixa frustrado), precisas de fechar os olhos, desligar do mundo e das expectativas por longas horas, e “perder” tempo a pensar no teu próximo passo, (em vez de seguires cegamente a rotina da multidão).
Iara Pinto
