O debate entre Catarina Martins, candidata apoiada pelo Bloco de Esquerda, e António Filipe, apoiado pelo PCP, decorreu num tom marcado pela proximidade política e por várias posições comuns. Transmitido pela RTP, o 19.º debate do ciclo das presidenciais ficou centrado sobretudo na greve geral, que ambos consideraram fundamental na luta contra o pacote laboral apresentado pelo Governo.
António Filipe afirmou que nenhum Governo responsável pode ignorar uma mobilização desta dimensão e defendeu que o executivo deve retirar a proposta e repensar a lei. Catarina Martins foi ainda mais direta, classificando o pacote como um ataque a todas as gerações de trabalhadores e à própria economia, sublinhando que a greve é um sinal claro de que o Governo tem de apresentar uma alternativa para negociação. Os dois candidatos também criticaram as declarações do primeiro-ministro sobre a subida do salário mínimo para 1.600 euros, considerando que não passam de promessas sem credibilidade.
Ao longo do debate, não houve disputa sobre quem representa a esquerda, com ambos a evitarem cenários de apoio numa eventual segunda volta. A convergência estendeu-se ainda à leitura da Constituição e à crítica à decisão de Marcelo Rebelo de Sousa de dissolver o Parlamento durante o anterior Governo. Catarina Martins defendeu a necessidade de um Presidente mais focado nos problemas do país e menos envolvido em jogos partidários.
A única divergência clara surgiu na abordagem à guerra na Ucrânia. António Filipe mostrou-se contra o reforço do apoio à Ucrânia e defendeu uma solução de paz negociada, enquanto Catarina Martins invocou o direito à autodeterminação dos povos e considerou legítimo apoiar a Ucrânia face à invasão russa, apesar de criticar o papel da União Europeia e dos Estados Unidos no processo de negociação. O debate terminou com a ideia de uma esquerda próxima nas prioridades sociais, mas com diferenças evidentes na política internacional.
Beatriz Peixoto