O Primeiro Confronto Seguro vs. Ventura Aquece a Corrida Presidencial

O Primeiro Confronto Seguro vs. Ventura Aquece a Corrida Presidencial

O primeiro debate televisivo para as eleições presidenciais de 2026, realizado ontem à noite na TVI pelas 21h00, colocou António José Seguro e André Ventura frente a frente num confronto marcado por interrupções e um claro contraste de ideias. O tom aceso do debate, que o moderador tentou em alguns momentos controlar, refletiu as ideias antagónicas de ambos os candidatos em torno de temas como a reforma do Estado, a imigração, as políticas laborais e o papel do Presidente da República no estado.

Um dos pontos centrais da discussão foi o modelo de governação e o papel do Presidente da República. Por um lado, André Ventura defendeu a necessidade de alterar a Constituição para garantir que o Presidente tenha “mais supervisão” e um “papel mais atuante”. Afirmou que não quer ser uma “jarra de enfeitar”, acusando o atual Presidente, Marcelo Rebelo de Sousa, de se estar a tornar como Américo Tomás, e prometeu ser o Presidente que quer “dar um murro na mesa”.

António José Seguro, pelo contrário, declarou não ver necessidade de alterar o regime semipresidencialista. Na sua visão, “o problema não está no sistema de governo mas sim na maneira
que se governa”, e defendeu que o Presidente deve respeitar a dignidade do Estado e a Constituição. Seguro acusou Ventura de estar na “eleição errada”, sugerindo que o seu foco de ação pertence mais a umas legislativas e afirmou ainda que o líder do partido Chega “quer ser tudo ao mesmo tempo”.

Também a questão da imigração foi palco de uma das mais fortes trocas de acusações, com Ventura a adotar um discurso de prioridade nacional acentuada.

André Ventura foi taxativo ao afirmar que o seu objetivo é “pôr os portugueses em primeiro” e que com ele, os portugueses teriam prioridade no acesso à saúde. Acusou Seguro de aceitar que imigrantes vindos de países como “Bangladesh, Paquistão etc. cheguem a Portugal e tenham direito a subsídios”. O líder do Chega dirigiu se diretamente a Antônio José Seguro afirmando: “eu sou candidato ao presidente de Portugal, não do Bangladesh, se quiser apanhe um avião e vá para lá” e declarou que seria o presidente “dos portugueses de bem”.

Seguro rebateu esta tese, lembrando que os emigrantes também descontam para a segurança social. Defendeu a necessidade de ser o “presidente de todos os portugueses”, assumindo os seus valores e convicções.

O assunto da política laboral levou a discordâncias e, neste contexto, até surgiu a questão da herança do Partido Socialista (PS) carregada por António José Seguro. Ventura expressou concordância com Seguro sobre a necessidade de compensar as pessoas afetadas pela greve, mas defendeu que a lei laboral deve ser mudada. Classificou a atual lei como estando montada na lógica de “mais vale em não trabalhar e não fazer nada” e advogou por uma lei que “incentive o trabalho”. Acusou Seguro de herdar as características do PS, alegando que “nunca como no tempo do PS tantos jovens emigraram”.

Seguro rejeitou ser “representante de todo o mal que o partido socialista fez ao país”, acusado por André Ventura afirmando: “assumo por inteiro tudo o que fiz na vida, sou um homem de convicções e de valores”. O candidato reforçou que “uma eleição legislativa é diferente de uma presidencial” e não se afirma um candidato representado mas sim apoiado pelo Partido Socialista, o que justifica a sua crítica de que Ventura está na eleição errada.

O debate ficou incompleto, não tendo sido analisada a questão das acusações do presidente de Angola feitas a Portugal e não retaliados por Marcelo Rebelo de Sousa. Ambos os candidatos reconheceram o debate como “tenso e vivo”.

Seguro admitiu ter sido “difícil” expressar o seu ponto de vista estando sempre a ser interrompido, mas sentiu que “conseguiu explicar o que queria”. Ventura insistiu que Seguro “trás uma herança de destruição” e dirige se aos Portugueses afirmando que a sua candidatura representa a rutura face aos políticos “que temos à 50 anos” (mencionando Seguro, Gouveia e Melo, e Marques Mendes).

No pós-debate, as avaliações dos comentadores da CNN tenderam a atribuir uma ligeira vantagem a Seguro, e de 0 a 20, as notas variaram entre 13 e 15 para o candidato socialista, e entre 10 e 13 para o líder do Chega.

Íris Almeida