Regresso às aulas: Estratégias psicológicas para uma transição saudável

Regresso às aulas: Estratégias psicológicas para uma transição saudável

O regresso às aulas e, em particular, a transição para o ensino superior, constitui um período desafiante, frequentemente associado a sentimentos de ansiedade, insegurança e, por vezes, níveis mais elevados de stress. A vida universitária implica não apenas a aquisição de novos conhecimentos, mas também a adoção de responsabilidades acrescidas, exigindo autonomia, disciplina e flexibilidade na adaptação ao novo ambiente social. Apesar das dificuldades, este processo pode ser vivido de forma saudável e enriquecedora, desde que os estudantes disponham de estratégias adequadas e de sistemas de apoio consistentes. 

A integração académica assume um papel central nesta adaptação. Estudos demonstram que uma integração bem-sucedida está associada a melhores resultados académicos, maior satisfação com a vida e melhor saúde psicológica . Pelo contrário, a ausência desta integração pode conduzir a isolamento, ansiedade e, em situações extremas, ao abandono escolar (Jantara et al., 2020). As redes de apoio social, nomeadamente a família e os amigos, revelam-se fundamentais. O suporte destes contextos associa-se a maior bem-estar, motivação e sucesso académico, ao passo que a sua ausência está correlacionada com stress, depressão e solidão (Jantara et al., 2020). Também o sentimento de pertença à comunidade académica é determinante: estudantes que se sentem integrados têm maior probabilidade de persistir nos estudos e alcançar sucesso. Neste sentido, práticas institucionais de inclusão e acolhimento desempenham um papel relevante (Van Kessel et al., 2025). Uma revisão sistemática e meta análise recentes concluem que o sentimento de pertença relaciona-se positivamente, não só com o desempenho académico, mas também, de forma mais significativa, com o bem-estar psicológico , reforçando a importância de promover ambientes universitários acolhedores (Van Kessel et al., 2025). 

Para além da integração social, o autocuidado é outro fator essencial na adaptação académica. Este conceito refere-se à capacidade de cuidar de si próprio através da consciência, do autocontrolo e da autoconfiança, visando a manutenção da saúde e do bem-estar (Riegel et al., 2021). A prática de autocuidado associa-se a maior bem-estar psicológico, menor stress  

percebido e melhor qualidade de vida (Montenegro, 2019). O bem-estar dos estudantes envolve dimensões como autoaceitação, relações interpessoais saudáveis, autonomia, crescimento pessoal, domínio ambiental e propósito de vida (Au et al., 2023). Além disso, fatores como pertença, resiliência e gestão eficaz do tempo são cruciais para a adaptação académica e para a melhoria do desempenho (Anderson-Butcher & Conroy, 2002; Ashrfi et al., 2021; Khodabakhsh

et al., 2019, cited in Au et al., 2023). Contudo, esta responsabilidade é frequentemente atribuída apenas ao indivíduo, sem integração formal nos programas académicos. Vários autores defendem que as instituições de ensino deveriam promover práticas de autocuidado através de unidades curriculares, workshops e atividades extracurriculares, criando uma cultura que valorize o equilíbrio pessoal e académico (Montenegro, 2019). 

Ainda assim, a adaptação ao ensino superior permanece um desafio, com impacto direto na saúde mental. Estudantes do primeiro ano relatam elevados níveis de stress, ansiedade e sintomas depressivos, especialmente as mulheres, que apresentam taxas mais altas nestas variáveis (Haruna et al., 2025). Esta realidade exige a criação de sistemas de apoio eficazes, desde núcleos e associações de estudantes até programas de mentoria entre pares, que favoreçam a integração, reduzam a solidão e aumentem a resiliência (Nordstokke & Hindes, 2025). O estabelecimento de relações próximas entre estudantes e professores pode também criar um ambiente de maior inclusão e pertença, com impacto duradouro ao longo do percurso académico. 

Em conclusão, a transição para o ensino superior, embora desafiante, representa uma oportunidade de crescimento pessoal e académico. Fatores como o sentimento de pertença, o autocuidado e as redes de apoio são determinantes para mitigar os efeitos do stress, da ansiedade e da depressão. Investir no bem-estar dos estudantes, quer através de políticas institucionais, quer através da promoção de estratégias individuais, não só favorece o sucesso académico, como contribui para formar profissionais mais resilientes e preparados para enfrentar as exigências da vida universitária e da carreira que escolherem seguir. 

Referências Bibliográficas

Au, A., Caltabiano, N. J., & Vaksman, O. (2023). The impact of sense of belonging, resilience, time management skills and academic performance on psychological well‑being among university students. Cogent Education, 10, 2215594. 

https://doi.org/10.1080/2331186X.2023.2215594

Haruna, U., Mohammed, A. & Barimah, M. (2025). Understanding the burden of depression, anxiety and stress among first-year undergraduate students. BMC Psychiatry. https://doi.org/10.1186/s12888-025-07069-8

Jantara, R. D., Abreu, D. P. G., de Paula, A. C. S. F., Ziani, J. S., Jantara, A., & Roque, T. D. S. (2020). Redes sociais e apoio social em estudantes universitários: Uma revisão integrativa.  Research, Society and Development, 9(10), e4709108695. https://doi.org/10.33448/rsd-v9i10.8695 

Montenegro, A. R. A. (2019). A prática faz o mestre: estudo do treino e integração do autocuidado na formação académica em psicologia (Tese de mestrado). Universidade de Lisboa. http://hdl.handle.net/10451/41586 

Nordstokke, D. & Hindes, Y. (2025). Relationships between first-year student resilience and academic stress. Behavioral sciences, 15(6). https://doi.org/10.3390/bs15060772 

Riegel, B., Jaarsma, T., Lee, C. S., & Strömberg, A. (2021). Self-care: A concept analysis.  International Journal of Nursing Sciences, 8(4), 418–425. https://doi.org/10.1016/j.ijnss.2021.08.007 

Van Kessel, G., Ryan, C., Paras, L., Johnson, N., Zariff, R. Z., & Stallman, H. M. (2025). Relationship between university belonging and student outcomes: A systematic review and meta-analysis. The Australian Educational Researcher, 52, 2511–2534. 

Autor: NUPSI
Imagem: Érica Oliveira

https://doi.org/10.1007/s13384-025-00822-8