IX Real Academicvs: o espírito universitário vive em canções

IX Real Academicvs: o espírito universitário vive em canções

O Teatro Municipal de Vila Real encheu-se de música e espírito académico, com o IX Real Academicvs, o Festival de Tunas Mistas de Vila Real desenvolvido pela TAUTAD. O evento aconteceu nos dias 14 e 15 de março e entregou prémios e boa disposição, tanto às tunas convidadas, como àqueles que assistiram ao festival.

Claustros do Antigo Governo Civil acolhem noite de serenatas

O dia 14 de março ficou marcado pela habitual noite de serenatas. As tunas a concurso (TMIPCA, Arquitectuna, VitisTunas e TMUM) e as tunas convidadas (Imperialis Serenatum Tunix e VibraTuna) presentearam aqueles que se deslocaram aos Claustros do Antigo Governo Civil de Vila Real, com rendições dignas das lágrimas dos universitários e da surpresa do público comum, que nem sempre tem a oportunidade de ver o espetáculo tuno.

As tunas convidadas, já conhecidas pelos vila-realenses e estudantes da universidade, foram as primeiras a atuar. A Imperialis abriu a noite de serenatas, com três originais comuns no seu repertório: “Oração”, “Com Sentimento” e, para encerrar, o “Hino da Imperialis”. A tuna masculina transmontana tem-se destacado, inclusive a nível nacional, já que, posterior ao festival, conseguiram três prémios no XV Festival de Tunas de Santa Ana. A sua performance na noite de serenatas dá justificação aos seus recentes galardoados.

Imperialis atua no IX Real Academicvs

A VibraTuna, tuna feminina de Vila Real, apresentou-se logo de seguida, também com três canções habituais no seu repertório mais intimista. “Aos Meus Amores”, “Ninguém” e “Será Saudade” foram as músicas que apresentaram ao público dos Claustros do Governo Civil. Apesar do estagnar recente, devido ao menor número de novos membros, a VibraTuna conseguiu apresentar-se a um nível bastante elevado, em especial no que toca ao conjunto de vozes, em canções que exigiam uma presença maior em coro.

Vibratuna apresenta-se nos Claustros do Governo Civil de Vila Real

Com o espírito tuno vila-realense, ficaram feitas as introduções. Subiam, então, a palco as tunas a concurso deste IX Real Academicvs.

O nervosismo de abrir a noite de serenatas como primeira tuna estrangeira não se notou na atuação da TMUM (Tuna de Medicina da Universidade do Minho). Com 16 anos de história, a TMUM trouxe a Vila Real o seu original “Alvorada” e uma versão ousada e bem executada da canção “Bandolins”, de Oswaldo Montenegro. A atuação dos minhotos provou o seu favoritismo no que toca às premiações, já que não houve quem ficasse indiferente à instrumentalização das canções escolhidas.

Num registo ligeiramente mais animado, a VitisTuna, Tuna Mista da Escola Superior Agrária de Coimbra, apresentou-se com o amor à música, à boémia e ao vinho, como descrevem na sua apresentação. Trouxeram, da cidade dos estudantes, “Cantar da Emigração”, de Adriano Correia De Oliveira, e uma adaptação da canção “Primavera” dos The Gift, muito bem apresentada na voz da sua solista da noite de serenatas. O destaque da tuna vai para a sua caracterização, nos seus chapéus caraterísticos, bem como para os seus estandartes e pandeiretas.

A ArquitecTuna já tinha tido tempo de tirar as medidas aos Claustros do Antigo Governo Civil. Só faltava, portanto, atuar. Vindos de Lisboa, apresentaram a Vila Real “Desabafo” e a canção “Confissão”, originalmente interpretada pelos Madredeus. Com caraterísticas que remetem ao gospel e uma capacidade ímpar no que toca à harmonização, conseguiram destacar-se, ainda, pela sua versatilidade.

Só ficava a faltar conhecer uma das tunas. Diretamente de Barcelos, preparava-se para subir ao palco a tuna mais nova a concurso, a Tuna Mista do IPCA. A sua primeira atuação remete para 2017 e, ainda assim, foram uma das surpresas mais agradáveis da noite de serenatas. Os seus solistas representaram grande parte da sua performance, tanto que acabaram por conseguir o prémio para Melhor Solista, num leque de escolhas que tornava difícil tal reconhecimento. Apresentaram-se pela primeira vez em Vila Real, trazendo consigo uma versão de “Morena”, do Tiago Bettencourt, e “Querubim”.

No esvaziar da sala, terminou a parte musical da noite. A festa passou a ser feita no exterior do edifício que foi casa de muita música, boémia e animação. As tunas iniciaram os seus preparativos para a noite que se avizinhava, no Teatro Municipal de Vila Real.

TMUM domina, ArquitecTuna surpreende: foi assim a segunda noite do IX Real Academicvs

No dia 15 de março, juntavam-se, no átrio do Teatro Municipal de Vila Real, as tunas e o público que escolheu marcar presença no festival. Para António Vieira, diretor artístico da TAUTAD, “é muito importante fazer os festivais aos fins-de-semana, para poder trazer o espírito da tuna ao público de Vila Real”. Pelas 21h30, começava o espetáculo tuno. O evento foi apresentado pelo mágico José Cambra e contou com uma atuação inicial do Departamento de Dança da Associação Académica da UTAD.

Preparados para a competição, a primeira tuna a pisar o palco do Grande Auditório do Teatro Municipal de Vila Real foi a Tuna Mista do IPCA. A tuna, que tinha sido um dos destaques do dia anterior, trouxe ao público adaptações de “Terra Ardida“, “É preciso que eu diminua” e, em grande destaque, “Ai Coração“, de Mimicat. O destaque vai para a última que, numa combinação de vozes que já se tinha provado eficaz na serenata, dotou-se de um arranjo com flauta que encheu e fez cantar a sala do teatro vila-realense. De seguida, apresentaram o seu momento instrumental e terminaram com “Se Esta Rua Fosse Minha”, o seu momento menos conseguido da atuação. Saíram de palco a deixar uma homenagem à cidade de Barcelos.

A ArquitecTuna prometia surpreender. Depois de uma noite de serenatas de bom nível, poucos esperavam que a tuna de Lisboa fosse ter uma performance tão boa como a que teve. Abriram o seu espetáculo a declamar palavras de Zeca Afonso sobre a cidade de Vila Real. Feito o preâmbulo do espetáculo, surpreenderam o Teatro de Vila Real com uma versão de “Ouvi Dizer“, dos Ornatos Violeta, que calou a sala. Os trejeitos de gospel e as inspirações orquestrais provocaram aquele que foi, musicalmente, o momento da noite. Continuaram com as adaptações de Ornatos, com “Capitão Romance” (menos bem conseguida que a anterior). Depois, no seu momento instrumental, como já lhes é habitual, apresentaram o seu Medley “He´s a Pirate”. A original “Lisboa Que Brilhas” encerrou a sua atuação, com uma homenagem à cidade capital, com traços do tradicional fado.

A VitisTuna, como já tinha sido na noite de serenatas, conseguiu diferenciar-se dos demais, especialmente no que toca a presença de palco, figuração e estandartes. A tuna da Escola Agrária de Coimbra começou com o original “Agrário do Capote Azul“, elemento que apresentam no seu traje, depois apresentaram uma adaptação de “La Llorona“, com a sua solista natural de Vila Real. O destaque da atuação vai para o instrumental “Esperanza“, com estandartes muito bem coreografados e o espírito ibérico bastante presente em palco. Também apresentaram as canções “Hino da Tuna“, “Queremos é vinho” e, no momento de encore, “A Burra“.

A última tuna a concurso a subir a palco foi a Tuna de Medicina da Universidade do Minho (TMUM). Com atuações muito completas do ponto de vista musical e pandeiretas e estandartes de topo, a tuna minhota começou a sua apresentação com “Vinho do Porto“. O seu instrumental “Forastero” foi uma ode à versatilidade que se pode encontrar no meio académico. As canções “Fragata” e “Doença Vadia” encerraram as performances das tunas a concurso.

Feitas as apresentações, restava a entrega de prémios. Porém, antes disso, a tuna organizadora, TAUTAD, também tinha umas palavras para dizer – ou cantar. A tuna mista mais antiga no ativo do país começou a sua atuação com “Mirandum se fui a la guerra”. Cantaram também “Sina”, “Sinfonia do Tinto”, “Príncipe dos Ladrões” e “Pelas Bielas”.

O foco estava, no entanto, na entrega dos prémios. A TMIPCA ganhou o prémio para Melhor Solista, o único que arrecadou na noite. Duarte Oliveira, presidente da tuna, admitiu que a tuna “divertiu-se muito durante o festival” e que, do ponto de vista da organização, “toda a gente fez um trabalho espetacular.

A VitisTuna, à semelhança da tuna barcelense, também conquistou um prémio – o de Melhor Pandeireta. Marta Ruivo é presidente da VitisTuna e considera que, mais do que os prémios, “o convívio é a parte mais importante, também nos divertimos muito em palco”.

A ArquitecTuna venceu os prémios de Melhor Desempenho Vocal e Melhor Adaptação. Carolina Marques, a magister da tuna, e Carolina Tenel, a ensaiadora, relembram o caminho “muito longo e duro” de Lisboa até Vila Real. As integrantes da tuna admitem que “vai ser para voltar” e que este festival foi muito importante para o conjunto, “especialmente para os caloiros”.

A TMUM foi a estrela da noite, conquistando os prémios de Melhor Serenata, Melhor Porta-Estandarte, Melhor Instrumental, Melhor Original, Tuna Mais Tuna e Melhor Tuna. O magister da TMUM, Francisco Matos, conta que “tiveram a oportunidade de ver Vila Real” e que o resultado é fruto do trabalho que têm colocado nos ensaios. O esforço valeu à tuna seis prémios, Francisco acrescenta que o foco é divertirem-se, pois “o resto vem por acréscimo”.

Para Dona Isabel, madrinha da TAUTAD e antiga proprietária da Taberna do Estudante, considera que as pessoas de Vila Real têm de valorizar mais as iniciativas dos estudantes. “A Taberneira”, apelido pelo qual é tratada carinhosamente, menciona que os vila-realenses “não dão apoio nenhum aos estudantes […] eles precisam de ser mais acarinhados do que aquilo que são”. “Vila Real, sem estudantes, é uma aldeia grande”, acrescentou.

TAUTAD lança novo disco

A tuna que hospedou o evento aproveitou a oportunidade para lançar o seu novo disco “Príncipe do seu tempo”, que brevemente estará disponível nas plataformas digitais. Ana Ferreira considera ser um trabalho do qual se orgulham muito e uma boa mistura entre o tradicional e a nova geração de tunas.

Prémios entregues, instrumentos arrumados, sobrou apenas espaço para as tunas aproveitarem a noite que se avizinhava. A nona edição do IX Real Academicvs trouxe o espírito académico ao Teatro Municipal de Vila Real, através de harmonias, batidas e muita animação.

Texto e Imagem: Diogo Linhares