“Nosferatu” é um romance gótico que nos drena até à alma

“Nosferatu” é um romance gótico que nos drena até à alma

Conhecido pelo seu aclamado trabalho em “A Bruxa” (2015) e “O Farol” (2019), o diretor e argumentista Robert Eggers dá uma nova vida ao clássico “Nosferatu, o Vampiro” (1922) no seu novo longa-metragem. A trama é ambientada na Alemanha do século XIX e acompanhamos a jovem Ellen (Lily-Rose Depp) que é atormentada por um antigo vampiro da Transilvânia (Bill Skarsgård).

No âmbito da direção, Eggers mostra-se extremamente competente ao aliar a tensão com a melancolia vivida pelos personagens, e até poderia dizer que culminou num autêntico terror psicológico mas estaria a mentir. De facto, o filme apela muito para a subjetividade, a partir do uso as sombras, mas peca pelo uso dos infames jumpscares na tentativa de o tornar mais comercial e apelativo. Tenho a certeza que o projeto se sustentava sozinho sem este recurso, apesar de na sua maioria terem sido bem utilizados.

Já no argumento, o cineasta optou por manter a base da história do filme de 1922 acrescentando uns pormenores que contextualizam e comunicam melhor com a audiência atual. Porém senti que o texto desperdiçou muitos momentos épicos ao apressar a ação em algumas cenas com o intuito de guardar força para o clímax final que, por sinal, é terrificamente poético.

Outro triunfo do filme é o trabalho minucioso da direção de arte que transporta o expectador para a época retratada sem nenhuma margem de erro. Aproveito para dar os parabéns á direção de fotografia pela escolha de uma paleta de cores mais azulada e acinzentada para transmitir a tristeza e a crueldade exigida pelo texto. Não esquecendo, também, de destacar a excelente trilha de sonora que, além de ajudar a transmitir o terror, dá um tom épico ao filme.

No elenco Lily-Rose Depp, no papel de Ellen, brilha ao mostrar toda a sua versatilidade como atriz, e Bill Skarsgård gela a espinha a qualquer um no papel do Conde Orlok (Nosferatu).

“Nosferatu” (2024) é um romance gótico épico que drena qualquer um até ao último resquício da sua alma devido à sua história aterradora e direção ousada. Acredito que não é justo comparar esta nova adaptação com o filme de 1922, apenas tenho a certeza de que Robert Eggers foi a escolha mais sábia para apresentar ao público atual os horrores do terrorífico vampiro da Transilvânia.

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Texto: Ivo Pereira

Imagem: Eduarda Paixão