Águias perdem invencibilidade na Champions com derrota pesada em casa

Águias perdem invencibilidade na Champions com derrota pesada em casa

Depois de um grande arranque no regresso ao comando técnico do Benfica, Bruno Lage teve o seu primeiro percalço e viu a equipa deixar muito a desejar e colecionar erros, especialmente na defesa, na receção ao Feyenoord, para a Liga dos Campeões, que culminou na derrota por 1-3.

Ora, de volta à Liga dos Campeões, Bruno Lage apostava no que tem sido o seu onze habitual, repetindo a equipa apresentada na última jornada da prova, contra o Atlético Madrid. Do outro lado, o técnico Brian Priske apresentava a mesma equipa que, no fim de semana, goleou o Go Ahead Eagles, para o campeonato, por 1-5.

Assim sendo, numa versão bem mais calma em comparação com a que deixou na estreia frente ao CD Santa Clara, Bruno Lage mantinha o discurso focado no treino, no trabalho, nos jogadores e na ideia coletiva passando ao lado de tudo o resto, das questões extrafutebol ligadas ao Benfica ao trajeto ziguezagueante da equipa com Schmidt ainda no comando.

Nada interessava a não ser seguir o “plano”. O problema é que esse mesmo plano foi fintado pelo Feyenoord, que secou as virtudes encarnadas do meio-campo para a frente ao mesmo tempo que expôs todos os defeitos que também existem sobretudo do meio-campo para trás. A defesa de ficção empurrou a equipa para um choque com a realidade, mas, mais do que isso, a forma como os encarnados entraram num encontro que podia ser decisivo nas contas para garantir de forma quase automática o play-off foi, digamos, o início do fim.

Ao contrário do que aconteceu, por exemplo, com o Atlético de Madrid, que nos minutos iniciais já estava a agradecer a Jan Oblak não estar a perder naquilo que seria uma mera questão de tempo, o Feyenoord conseguiu anular aquilo que seria a expectável entrada a todo o gás do Benfica para ir equilibrando os momentos de jogo.

Logo, a jogar em casa, o Benfica assumiu a posse de bola no início de jogo, pressionando alto, intenso, e mostrando-se bem no momento da recuperação. O Feyenoord, por sua vez, defendia em 4-3-3, com um duplo-pivot defensivo, com todos os elementos atrás da linha da bola. Com bola, os neerlandeses invertiam esse triângulo, libertavam o capitão Timber para missões ofensivas e mostravam-se verticais nos ataques, assertivos com bola, quase sempre em busca da velocidade dos extremos Usman e Igor Paixão, que procuravam o espaço entre centrais e laterais.

Assim, este não era jogo nem para verticalidade, nem para precipitações em zonas proibidas. Mais do que tudo, era um jogo de paciência. De paciência, de riscos calculados, de inteligência na perceção dos momentos. Na primeira vez que o Benfica falhou, os neerlandeses não perdoaram: na sequência de uma reposição de Trubin, Timber lançou Igor Paixão no espaço entre Alexander Bah e Tomás Araújo, o brasileiro ficou em posição regular pela má definição da linha por Otamendi e Ayase Ueda desviou de primeira para o 0-1, à passagem do minuto 12.

A verdade é que o Benfica até reagiu bem ao golo sofrido e quase empatou aos 20′ – Bah acertou no poste, na sequência de um canto -, mas, pouco depois, aos 24′, Ueda bisou numa jogada de insistência após cruzamento na direita, onde Trubin ainda defendeu as duas primeiras tentativas. Contudo, o VAR salvou (embora brevemente) o Benfica, por falta no arranque da jogada. Brevemente apenas porque o Feyenoord aproveitou este momento para crescer animicamente e, aos 33′, chegou mesmo ao 0-2, numa jogada individual de Milambo à entrada da área, onde Otamendi ficou muito mal na fotografia.

Até ao intervalo, o Benfica ainda podia ter reduzido, mesmo que de forma muito atabalhoada. Vangelis Pavlidis atirou para o fundo das redes, mas havia fora de jogo de Akturkoglu no início da jogada. Já próximo da compensação, Ángel Di María bateu um livre e quase surpreendeu Wellenreuther.

Chegava o intervalo e era tempo de reflexão. Muita coisa teria de ser mudada para que os encarnados alterassem o rumo dos acontecimentos. Era necessária uma dose de confiança e maior critério no momento com bola. O Benfica apareceu, de facto, mais incisivo na segunda parte, mas sempre que a equipa de Brian Priske se aproximava do último terço, criava perigo. O Feyenoord ameaçou mesmo o 0-3, numa recarga de Hancko, após bola no ferro de Trauner, mas havia fora de jogo.

O relógio, impiedoso no curso do destino, obrigava, por isso, Lage a mexer. Entrava Amdouni e Beste (saíram Florentino e Di María) e o que é facto é que a entrada do alemão acabou por mexer com o jogo.  Assim, ao abdicar de Florentino Luís e mais tarde de Kökçü (neste caso para o regresso à competição de Renato Sanches após lesão), Lage arriscou tudo sabendo que podia correr bem para almejar ainda o(s) ponto(s) ou mal a ponto de ver a derrota ser mais pesada.

Arriscou e, logo a seguir, teve frutos. Isto porque, aos 67 minutos, o Benfica marcava, com influência do reforço encarnado para a nova época. Após uma transição rápida, o alemão disparou, Wellenreuther defendeu para a frente, e Akturkoglu empurrou para o fundo das redes, reduzindo para 1-2. A Luz voltava a despertar e o jogo estava relançado.

Apesar do golo, o Benfica estava longe de estar bem, embora, agora, tivesse galvanizado e colocado as bancadas do seu lado. Lage assumiu o risco total, passando a mensagem à equipa, subiu ainda mais as linhas e fez entrar Arthur Cabral. Estavam lançados os dados para uma ponta final frenética, até porque o Feyenoord não se acanhava no contra-ataque, apesar de algumas perdas de tempo, e esta foi realmente eletrizante em alguns momentos, mas os neerlandeses foram tentando sempre parar o jogo e isso dificultou uma verdadeira reação das águias.

A verdade é que a estratégia acabou por resultar e, aos 90+2’, o jovem médio neerlandês Milambo fechou uma exibição de gala e, num canto estudado, com um remate fora da área, fez o 1-3 final e deu a machadada final no Benfica.

Homem do jogo

Antoni Milambo.

Pode ser discutível se foi o melhor em campo, mas não merece qualquer discussão que foi ele o homem do jogo. Marcou dois golos, o primeiro numa jogada que teve um túnel a Otamendi antes da finalização e o segundo já em tempo de compensação. Foi também inteligente na ocupação de espaços, forte nos duelos e eficaz o passe. Belo jogo do médio de 19 anos.

Texto: Raúl Saraiva

Imagem: UEFA