Muita fanfarra se fez à volta dos livros Dune, universo criado por Frank Herbert, serem intransponíveis para o grande ecrã. A complexidade, as temáticas e os próprios acontecimentos inerentes aos livros tornam uma adaptação fiel – ou sequer satisfatória – absurdamente complicada. Mais eis que habemus Villeneuve.
Realizado por Denis Villeneuve e co-escrito com Jon Spaihts, a sequela de Duna (2021) retrata o esforço de Paul Atreides (Timothée Chalamet) em unir os nativos Fremen na luta contra o domínio da tirânica Casa Harkonnen. Sendo este filme a segunda metade da adaptação do primeiro livro Duna (1965), o realizador é capaz de suprimir uma das principais críticas apontadas ao Duna (2021): o de parecer um prólogo/ficar a meio; e se ainda alguma crítica houvesse, ao fim nenhuma resta.
Como já nos tem habituado, Villeneuve destaca-se cada vez mais como um dos principais cineastas de ficção científica da atualidade: num catálogo de Arrival, Blade Runner 2049 e Dune (2021), Dune: Part Two revela-se a joia da coroa. Com a exceção de uns ligeiros erros de edição, o segundo Duna é um filme tecnicamente perfeito, cinematograficamente inventivo e absurdamente bem conseguido: a cinematografia de Greig Fraser denota todo um nível ainda não visto no cinema mainstream, a música de Hans Zimmer é genial, o set design e os efeitos especiais lembram-nos que tudo isto é alienígena. A chegada de atores como Austin Butler (Feyd-Rautha Harkonnen), Florence Pugh (Princesa Irulan Corrino) e Léa Seydoux (Senhora Margot Fenring) elevam tanto o filme em si como o material literário e as atuações, tanto do elenco original como do recém-chegado, são estupendas – especial destaque para Chalamet, Zendaya (Chani), Rebecca Ferguson (Senhora Jessica) e Butler. Em suma, os valores de produção são astronómicos.
Tematicamente, notar que ambos os filmes respeitam as origens reais da cultura Fremen – as culturas árabes e africanas –, criticando o impacto e a força da religião nas pessoas, assim como a submissão forçada de nativos pela mão de entidades externas/estrangeiras. Salienta ainda as noções problemáticas do white savior e aproxima Paul Atreides de quem é suposto ser: o anti-herói. Citando o primeiro filme, My desert. My Arrakis. My Dune.
Sinceramente, tive graves dificuldades em escrever esta crítica; e apenas uma hora adentro do filme é que comecei a apontar notas, de tão envolvido que estava que me tinha esquecido de o fazer. Querem melhor que isto? Dos melhores filmes deste século, 5/5 e 10/10. O filme dura 165 minutos e encontra-se em exibição nos Cinemas NOS.
Texto: Joaquim Duarte
Imagem: Eduarda Paixão