Debate LIVRE – CHEGA: “Farsismo nunca mais!”

Debate LIVRE – CHEGA: “Farsismo nunca mais!”

Decorrido às 22h de 16 de fevereiro, o debate televisivo entre Rui Tavares do LIVRE (L) e André Ventura do CHEGA (CH) teve direito a uma transmissão na SIC Notícias que poderia muito bem ter sida gravada nas estereotípicas peixarias do Mercado do Bolhão, tamanha a azáfama oriunda de ambas as partes.

No que se previa ser um debate “aquecido”, fruto do prévio confronto de 2022 que deu azo ao excerto viral no qual Rui Tavares sinaliza as “zero vezes” que o programa eleitoral do CHEGA aborda certos tópicos, a discussão passou mais pelos ataques partidários que pelo diálogo de medidas ao longo dos 17 minutos a que cada líder partidário se impôs perante o azar da moderadora Rosa de Oliveira Pinto.

Justiça

O início, protagonizado por André Ventura, prendeu-se ao tema da Justiça. O presidente do CH defende uma reforma com base no aumento das penas de prisão e do confisco de bens, criticando a morosidade dos processos e o mau uso dos recursos. Aproveita ainda para atacar o L pela falta de acompanhamento nas medidas parlamentares, assim como o PS e o PSD pela inação na Justiça. Imitando o oponente, refere as “zero vezes” que o programa do LIVRE menciona diversas palavras relacionadas com o tema prisional – algo que, entretanto, já se provou falso: as palavras específicas que André Ventura refere não se encontram no programa eleitoral do L mas o tema é abordado em detalhe.

Rui Tavares, que nada comentou enquanto Ventura expunha o respetivo programa, concorda com a necessidade de reformas na Justiça mas discorda do método. Defende que a reforma deve passar por medidas de prevenção do crime, inclusive da corrupção e num panorama de cooperação internacional, e não pelo agravamento de castigos – essencialmente, medidas sociais – e que este tópico seria prioridade numa eventual vitória da Esquerda a 10 de março.

O caldo

Finda a primeira intervenção de Ventura, Rui Tavares expõe – previamente à exposição do programa do L sobre Justiça – uma situação que o afetou pessoalmente. O deputado alega que fotografias captadas ilegalmente à filha, enquanto esta se encontrava em instalações e período escolar, foram utilizadas por duas ocasiões como “armas de arremesso político” no Parlamento pelo deputado do CH, Pedro Frazão, numa tentativa de demonstrar “hipocrisia” por parte de Rui Tavares sobre a ingressão da filha numa escola privada e não numa pública.

Entornou-se o caldo.

Enquanto André Ventura defendia-se afirmando desconhecer a situação e pressionando Tavares a falar sobre a alegada hipocrisia escola pública/privada, o deputado do L esclareceu a situação da escolaridade da filha – anda na escola a que tem direito por ocasião da profissão da mãe – e alertou à necessidade de mais e melhor investir nas escolas públicas para que possam atingir outros patamares. Criticou veemente o partido oponente e o próprio Ventura, tal como aconteceu no resto do debate e de ambas as partes.

Parece pouco mas, a juntar tudo aqui escrito até agora, foram seis (6!) minutos de debate para cada oponente. E, com esta e outras, os 17 minutos de debate para cada jogador ficam explicados. Salientar ainda que as fotos de Rui Tavares com a filha foram inicialmente partilhadas no X/Twitter por Luc Mombito, o amigo de Ventura na famosa foto da ganza.

Pensões, Política Externa e mais caldo

Conseguindo-se avançar com o debate, o tema virou-se para os pensionistas. Ventura, que propõe igualar as pensões ao salário mínimo nacional, falou em usar os fundos europeus para tal em detrimento de iniciativas como a “ideologia de género”. Procedeu a equiparar o L e o CH nesta medida, em concreto na ideia da subida do valor das pensões.

Curiosamente, foram várias as ocasiões em que o líder partidário do CH equiparou ambos os partidos e ainda mais as vezes que olhou e que pediu diretamente que a câmera o focasse, reforçando as capacidades demagógicas e populistas do político no ataque ao adversário e, simultaneamente, enaltecendo tanto o culto de personalidade subjacente como a aparente incapacidade governativa do próprio e do partido.

Por sua vez, Tavares fala na necessidade de reformas da União Europeia em vários assuntos económicos, inclusive as pensões, e em contraponto às ideias avançadas por Ventura. Acusa Ventura de ser amigo de líderes notoriamente corruptos e conservadores como Viktor Orbán – com a Hungria a ser considerada o governos mais corrupto da UE –, Trump e Bolsonaro e amigo de amigos de Putin, tais como o “político de referência” Matteo Salvini. Este vai e vem teve Ventura a contra-atacar com supostas ligações e apoio de Tavares a Lula da Silva (Brasil), Cuba, Venezuela e à Autoridade Palestiniana e a presença do líder do LIVRE no European Alternatives.

Com a aparente farsa do combate à corrupção por parte do CHEGA e a proximidade à extrema-direita, surge uma amálgama por parte de Rui Tavares: “farsismo”, com a expressão “farsismo nunca mais!

Habitação Jovem e como os jovens farão caldo se não tiverem casa

Seguindo a linha desprotegida de alta tensão a que este confronto nos habituou, mantém-se a situação: Ventura avança com uma ideia com a qual o LIVRE concorda, exceto no método. A habitação deverá ser facilitada aos jovens mas Ventura procura-o com ajudas bancárias e Rui Tavares com a comparticipação estatal na aquisição da primeira casa e com garantia de retorno do dinheiro investido nos jovens.

Caldo verde?

Com este tópico, termina o debate – se é que assim se pode chamar, tendo ainda continuado por mais uns instantes com trocas de acusações. Este confronto de polos opostos da política portuguesa termina com a perceção de que, uma vez mais, Rui Tavares supera e desconforta nitidamente André Ventura, embora não tão claramente como em 2022; fosse isto um concurso de decibéis, aí ganharia Ventura.

No entanto, tratando-se de um confronto de ideias, medidas e posições, Rui Tavares leva a que André Ventura confirme as suas amizades com alguns dos líderes políticos europeus e americanos fascistas atuais, sendo o demagogo incapaz de defender o partido perante as acusações do uso de fotografias de menores para fins políticos e incapaz de apresentar medidas prévias que tenham alterado ou futuras que possam vir a alterar a vida dos portugueses para melhor. O debate pode ser visualizado na íntegra aqui.

Texto: Joaquim Duarte