8ª Edição do Boreal – Festival de Inverno no Teatro de Vila Real lotado de pessoas e muita música

8ª Edição do Boreal – Festival de Inverno no Teatro de Vila Real lotado de pessoas e muita música

A 8ª edição do Festival Boreal aconteceu nos passados dias 23 e 24 de fevereiro, em Vila Real, com The Last Internationale e Manel Cruz a surgir como cabeças de cartaz. O festival de inverno deambulou entre o Pequeno e o Grande Auditório do Teatro de Vila Real, com concertos de entrada livre no Café-Concerto Maus Hábitos.

Numa edição esgotada, o oitavo ano do Boreal – Festival de Inverno deu especial atenção aos nomes da música emergente da região, escolhidos na sequência de uma Open Call, promovida pela organização do festival. Apesar disso, o cartaz contou também com músicos em ascensão de outros pontos do país e ainda dois nomes já estabelecidos no panorama da música, não só nacional, mas também internacional. Foi uma edição eclética, que viajou por sonoridades como o rock, a música eletrónica, o pop, o indie, o folk, mas também o hip hop, o rap e ainda o trap.

O Boreal 2024 arrancou o primeiro dia no Pequeno Auditório com a estreia ao vivo da banda portuguesa In We Fall. O projeto formado por Daniel Moreira na voz e na guitarra, Carlos Carneiro também na guitarra, Luís Almeida a cargo das linhas de baixo e Frederico Lopes na bateria, iniciou-se em dezembro de 2022. Vindos de Penafiel, In We Fall trouxeram, entre riffs e vozes rasgadas, a sonoridade do metal alternativo ao público do Teatro de Vila Real, com os singlesSilent War” e “What Now?”, lançados em 2023, e o mais recente “Empty War” já deste ano, que farão parte do álbum de estreia, “Inner Self”.

Este ano, o Boreal apostou numa edição onde a música não podia deixar de se ouvir em momento algum. A proposta do festival foi a banda portuguesa The Panic Party, que, entre os intervalos de cada concerto, convidou o público a embarcar numa viagem que remonta aos anos 60 e combina o som dos conjuntos portugueses e das bandas de surf rock americano da época. Este quarteto instrumental prioriza, nos seus originais, os ritmos dançáveis da música popular portuguesa, do tango e ainda da rumba, o que culminou numa atmosfera de festa, de sorrisos e alguns passos de dança de quem se encontrava na zona do bar, entre o Pequeno e o Grande Auditório.

Youth Yard foram os primeiros desta edição a pisar o palco do Grande Auditório. A banda de Viana do Castelo, que teve início em janeiro de 2022, já conta com dois EP’s e, pela primeira vez com o disco já cá fora, apresentou o segundo EP, “Straight to the Point”, no Teatro de Vila Real. A banda fez ecoar o som da bateria, do baixo, das guitarras, do teclado e das vozes com sonoridades que variam entre o rock dos anos 80 e 90.

A noite seguiu e, novamente no espaço intimista do Pequeno Auditório, sobe ao palco AGUAPURGA. A banda emergente sediada em Vila Real, junta as vozes e as guitarras de Ari Martins e Rafael Fernandes, a bateria de André Macedo, o baixo de Henrique Lopes e ainda a guitarra de Nelson Sousa. Neste concerto, os “cinco amigos” apresentaram o primeiro EP “AGUAPURGA”, lançado este ano, que, para além dos riffs eletrizantes e das influências do rock dos anos 90, dá especial ênfase às palavras e à poesia cantada na língua portuguesa.

De volta ao Grande Auditório, a banda nova-iorquina The Last Internationale retorna depois de 12 anos ao Teatro de Vila Real e era, por muitos, o concerto mais ansiado do primeiro dia desta 8ª edição do Boreal. O duo de rock resulta da união da voz de Delila Paz e os riffs de guitarra de Edgey Pires, músico com raízes portuguesas. Num concerto acompanhado por dois músicos portugueses no baixo e na bateria, a energia e dinâmica da banda não passou ao lado mesmo daqueles que desconheciam a música dos americanos. A performance ficou marcada pela presença forte e contagiante de The Last Internationale, com palavras de intervenção da vocalista sobre preocupações sociais, e momentos de proximidade que, ao longo do concerto, os músicos estabeleceram com a plateia, também ela muito recetiva. O espetáculo terminou com o público a partilhar o palco com os artistas e a dançar ao som de The Last Internationale, num momento de comunhão com a música rock.

A noite do primeiro dia do festival terminou no Café-Concerto Maus Hábitos de Vila Real com DJ Kitten, que deu continuidade ao ambiente festivaleiro, de convívio e descontração, com uma sonoridade mais eletrónica e moderna. João Vieira, conhecido também como vocalista e guitarrista da banda portuguesa X-Wife, iniciou a sua carreira como DJ, músico e promotor de clubes em Londres, no final dos anos 90. Foi a partir do Porto que, nos anos 2000, formou o Club Kitten e reescreveu a cena clubbing em Portugal. No entanto, foi apenas em 2013, com o alter-ego de White Haus, que João Vieira produziu as suas primeiras composições eletrónicas. Agora, como DJ Kitten, é já autor de 40 singles, três EP’s e dois álbuns, o primeiro de 2020 e o último lançado no ano passado, “DJ Turn It Up”.

O segundo e último dia do Festival de Inverno – Boreal 2024 esteve voltado para um line-up mais recheado de artistas locais e regionais.

O primeiro concerto do dia ficou a cargo da jovem, cantora e compositora, Margarida Gomes, vencedora do concurso “TransmonTalent”. Margarida atuou ao final da tarde, no Café-Concerto, onde apresentou sete originais cantados em português. Acompanhada por uma guitarra, um ukulele e um violino, a cantautora fez soar acordes suaves e melodias calmas, e transmitiu, numa atuação comovida, aquilo que dá forma às suas composições, cantando dilemas amorosos, ou da vida em geral, desabafos e vivências.

Com o sol já posto, seguiu-se, ainda no Café-Concerto, Carlos Sanches. O artista emergente, vindo de Chaves, fez-se acompanhar pela pianista Catarina Rodrigues e ambos acolheram o público de Vila Real com a música indie folk que Carlos traz na voz e na ponta dos dedos. Entre singles e outro EP’s, tocou ainda o seu último EP “Migração das Andorinhas”, pelo qual foi distinguido nos “Novos Talentos Fnac 2023”.

O rapper vila-realense David abriu a segunda noite do Boreal, no Pequeno Auditório. David junta o rap com solos do clássico violino, pelo qual se fez acompanhar. Com instrumentais de produtores nacionais consagrados – CharlieBeats, Spliff, Xeg, entre outros –, o músico conta com uma discografia de dois álbuns e oito singles, destacando-se o seu mais recente “Não Vale a Pena (Unplugged)” em colaboração com Sofia Lessa, lançado em janeiro deste ano.

Nas pausas entre concertos, o público contou, uma vez mais, com a música de The Panic Party, para trazer o calor e a maresia até ao Festival de Inverno transmontano.

Ainda dentro do espectro do rap e do hip hop regional, os festivaleiros viajaram até ao Grande Auditório para ver J PURO. Com um repertório de nove singles e um EP, lançado em 2022, o rapper e compositor, também natural de Vila Real, encheu o auditório com sonoridades vincadas no rap e no trap

Logo a seguir, foi a vez de Silentide, projeto do músico e produtor portuense, João Freitas, num concerto que sobrelotou o Pequeno Auditório. Com vozes, guitarras, sampling, baixo e bateria, Silentide, ao vivo, apresenta-se em banda, e levou o seu debut album Self Note”, lançado no início de 2023, para cima do palco do Teatro de Vila Real. A banda envolveu o público numa viagem imersiva pela música alternativa, atravessando sonoridades que vagueiam pelo indie, o rock e a eletrónica. Com olhos postos no próximo disco, que sairá este ano, o artista avançou com alguns dos temas que farão parte deste segundo álbum.

A encerrar os concertos da 8ª edição do Boreal, Manel Cruz esgotou a maior sala do Teatro de Vila Real com a digressão a solo, “CRU”. O nome incontornável que, desde a década de 90, tem vindo a marcar o espectro do rock português com projetos como Ornatos Violeta, Pluto, Foge Foge Bandido e Supernada, foi o cabeça de cartaz do último dia do festival. Na sua solitude, Manel Cruz apresentou-se em nome próprio e encheu o Grande Auditório com aquele que é um dos timbres mais inconfundíveis no panorama do rock em Portugal, acompanhado somente de um ukulele, uma harmónica, uma guitarra e um baixo acústico, que vêm complementar este lado da carreira mais desprovido do artista. Manel Cruz tocou, não só temas do disco a solo, “Vida Nova”, como também algumas das músicas que farão parte do próximo trabalho de originais, e ainda outras faixas conhecidas dos Ornatos Violeta e de Foge Foge Bandido, interpretadas de forma mais “crua e despida”. Neste contexto mais intimista, o cantor e compositor hipnotizou o público de Vila Real, que ia acompanhando os versos cantados pelo artista, com as melodias acústicas melancólicas e envolventes.

O último momento do alinhamento do festival aconteceu, uma vez mais, no Café-Concerto Maus Hábitos, com o DJ set de becapega. Com casa cheia, o DJ emergente, natural de Vila Real, fez o público do Café-Concerto dançar ao som de uma seleção proposta pelo artista, que foi desde o boogie até às batidas eletrónicas.

Nestes dois dias de Boreal, com lotação esgotada, viveram-se momentos de euforia, descontração, convívio, partilha e, acima de tudo, de muita música.

Em entrevista ao Alternador, vários foram os elogios sobre esta edição que estiveram presentes nas bocas dos que passaram pelo festival. Desde o destaque à “boa organização” e à “evolução positiva”, passando pela vertente mais social que o Boreal proporciona”. Para além disso, os festivaleiros reconhecem e evidenciaram o valor cultural que a iniciativa do Festival de Inverno traz para a cidade de Vila Real. Por entre os entrevistados, as atenções estiveram centradas nos cabeças de cartaz The Last Internationale e Manel Cruz, no entanto, salientaram alguns dos artistas que mais surpreenderam nesta oitava edição: In We Fall, AGUAPURGA, Margarida Gomes, Carlos Sanches, David, J Puro e Silentide. Numa edição descrita como “fantástica” e “espetacular”, os visitantes mostraram-se satisfeitos com o alinhamento deste ano e expectantes pela edição que se segue.

Madalena Andrade

Imagem: Tiago Esteves