ENTREVISTA: Carlos Sanches, cantautor flaviense, pela primeira vez em Vila Real

ENTREVISTA: Carlos Sanches, cantautor flaviense, pela primeira vez em Vila Real

Sete de fevereiro de 2024. Acabado de chegar a Vila Real via autocarro, o jovem artista de 27 anos senta-se à conversa com O Torgador ft. Alternador. O músico apresenta já dois EP’s, o primeiro lançado em 2020 e o segundo em 2022; resta saber se terá, porventura, algo de novo a apresentar…

Nesta conversa matinal acompanhada de um café e de um carioca de limão, Carlos dá-se a conhecer. O tema? A vida de artista.

Torgador (T) – Trabalhas com uma editora de Chaves, então continuas mais ligado a Chaves nesta fase da tua vida. Como surgiu a colaboração com a Indieror?

Carlos Sanches (CS) – Conheci o pessoal da Indieror entrando nos workshops deles e sendo, primeiramente, amigo deles; eventualmente comecei a trabalhar com eles na associação cultural. Antes disso, estava em Lisboa a fazer o curso de Desenvolvimento Artístico na RESTART e queria começar a gravar.

E parece que veio mesmo a calhar, porque pensei “bem, há um estúdio em Chaves, há um produtor, vou para Chaves ficar algum tempo e começar a trabalhar nas minhas coisas” já em 2019. Alinhou-se tudo de uma maneira muito natural.

Precisei de ajuda principalmente na área de imagem e no lançamento e edição dos discos e das coisas físicas. E tenho a certeza de que estarão sempre presentes de alguma maneira, acima de tudo são meus amigos.

T – Alguma coisa já para o futuro que possas falar?

CS – Estou no processo de gravação de músicas novas. Comecei há pouco tempo mas as coisas estão, na sua maioria, compostas. Estamos no estúdio a divertirmo-nos, o que é um processo muito importante [risos].

O primeiro EP, Amparo, é sobre a minha passagem de adolescência para adulto e falo muito sobre isso. Já o segundo, A Migração das Andorinhas, é sobre o que está à minha volta e muito sobre Chaves, a minha cidade natal. Para este novo projeto, que será um álbum, estou a voltar a mim e hei de falar muito relacionamentos, amor e desamor e jardins, há muita coisa sobre jardins.

Ando a compor coisas que, de certa maneira, me são leves, têm saído com fluidez; numa noite sai a música na totalidade e depois é só alterar algumas coisinhas. Este processo tem sido diferente e muito fixe, tenho gostado de estar neste estado de espírito.

T – Sentes já um bom crescimento de ti próprio enquanto quanto cantautor, enquanto artista, desde que começaste em 2019 até hoje?

CS – Sim, sim. Principalmente por haver uma quebra de preconceitos no que toca a ser artista. Ultimamente, tenho só deixado as coisas sair de uma maneira mais espontânea e não filtrar tanto. E muito do meu objetivo agora é tentar expressar o que eu sou ao máximo.

T – Nos dois EP’s já lançados tens colaborações. Estás a contar ter mais alguma para este projeto?

CS – Sim, estou. Não sei quantas colaborações irei ter mas pelo menos uma canção com uma amiga minha, Teresa Queirós, que canta muito bem e me tem ajudado neste processo. Tem sido uma parte importante, pelo que faz sentido ela participar também.

T – Como é que ser de Chaves impacta a maneira como consegues fazer a tua música e até aquilo que trazes para ela?

CS – Eu estou agora a viver em Lisboa. Tenho vivido muito “umas semanas em Lisboa, umas semanas em Chaves” e tem sido fixe para o processo de composição; mudar espaços é muito criativo para mim.

Não acho que seria possível fazer o que faço se estivesse noutro sítio e isso é uma das mais-valias de estar no Interior, para mim. Foi mesmo sorte ter conseguido encontrar um bom meio-termo, estar num estúdio de amigos, com alguém que conheço e em quem confio, que sabe exatamente o que eu quero fazer; é uma coisa bastante especial.

Acho que hoje em dia, com as tecnologias avançadas, podes fazer tudo o que quiseres em termos de  criação, de composição, de lançar coisas no Interior em comparação a sítios maiores. É mais positivo estar no Interior, de certa maneira.

Em termos de concertos e de conhecer as pessoas certas e essas coisas todas, isso já é diferente. Eu ainda acho difícil entrar no círculo normal de pessoas que fazem concertos em Lisboa; é uma comunidade fechada. O Porto é muito mais acolhedor.

T – Mesmo assim, tens conseguido dar concertos. Lisboa, Porto, Vila Nova de Famalicão, Aveiro, Coimbra; participaste no Novos Talentos Fnac 2023, no Festival Termómetro e mais recentemente no Bonds Festival. Sentes que estás a fazer progressos no panorama nacional musical?

CS – Felizmente, tenho conseguido mostrar a minha música em bastantes sítios. O evento da Fnac foi muito fixe, em novembro fiz muitos concertos e tenho sentido que tenho tido mais reconhecimento, mesmo em termos de audiência, e tenho conhecido pessoas fixes, o que para mim é uma coisa muito importante.

Eu gosto de colaborar com muita gente, na realidade, e não acho que isso seja uma coisa tão séria quanto às vezes o pessoal põe. Eu não sinto que haja assim tantas colaborações em Portugal e eu tenho sempre vontade, só a ver o quê que sai.

Sinto-me incluído numa geração musical, algo que não sentia quando lancei o Amparo. Artistas como a Bia Maria, a Inês Apenas, a Rita Borba, a Chica, a Catarina Branco, a Branca e o Jasmim. Sinto que alguns destes artistas que referi vão crescer bastante e que vão ser nomes sonantes.

T – O quê que te traz a Vila Real?

CS – Esta entrevista [risos]. E também quero ver o espaço em que vou atuar dia 10, sábado, no Archie Tattoo Studio – House Of Arts e conhecer o pessoal da associação Cultura a Dentro.

Já vim muitas vezes a Vila Real, por ser de Chaves. Uma pessoa quando tem de ir ao cinema vai a Vila Real. E nunca toquei cá, esta vai ser a primeira vez. Seria interessante vir a um Rock Nordeste ou a um Boreal.

T – Sério? Bastante interessante que ainda não tenhas cá atuado.

CS – Pois, sim, mas eu só comecei a fazer mais coisas no ano passado. Só no ano passado é que começou a rolar em termos de concertos e, portanto, não acho muito incomum isso.

T – Por agora é Vila Real, portanto. Já tens algo mais planeado?

CS – Por enquanto é só Vila Real. Provavelmente terei alguma coisa em Chaves este ano; ainda não sei quando. Iria querer voltar a tocar em Coimbra e Aveiro.

Agora estou um bocado mais focado em gravações. Provavelmente, não haverá tantos concertos como no ano passado. Estou a contar que o álbum saia no outono e talvez aí saiba melhor onde vou atuar e o quê que vai acontecer.

T – Imagino que sintas algum desgaste com os concertos todos.

CS – Exatamente, sim. Eu sinto que quando toco coisas ao vivo, quando estou a planear concertos, fico cansado das músicas muito rapidamente. Então penso em maneiras de me entreter.

Mas é quase uma ilusão, porque só eu é que noto isso. O resto do pessoal não vê todos os meus concertos; é estranho. Nos últimos concertos tenho vindo a tocar músicas novas, já não estou a tocar nada do primeiro EP e tenho andado a notar nisso. Nesta altura acho que não faz tanto sentido e provavelmente daqui a algum tempo se calhar vai fazer sentido eu voltar a olhar para essas músicas.

Agora é um bocado de respeitar o momento em que estou e querer tocar estas coisas e querer mostrá-las.

T – Como classificarias o teu género musical?

CS – Eu ponho-me sempre no saco do Indie Folk.

Muitas das bandas que consigo dizer que são influências minhas são esse género: Fleet Foxes, Sufjan Stevens, Big Thief. Esses, diria, são as que me têm influenciado mais nesses últimos anos. Internacionalmente; nacionalmente, Zeca Afonso, José Mário Branco e essas raízes do folk português.

Gosto sempre de fazer essa ligação nas minhas canções, tentar de certa maneira incorporar o que é nosso nelas. Não querer só ser uma coisa de fora com letras portuguesas.

T – Em termos das tuas músicas, dirias que tens alguma preferida?

CS – Estou dividido entre duas, neste momento.

Tenho uma favorita por causa do processo de criação, foi a primeira canção que fiz que me saiu logo, naturalmente, toda em duas horas: Naufrágio, do EP A Migração das Andorinhas. Foi tão natural que há alguma coisa que ainda me desperta curiosidade quando estou a tocar ao vivo.

A outra foi exatamente o processo contrário: Dias Perdidos, do mesmo EP. Foi a canção que me demorou mais a ser composta, muitas folhas riscadas e foi um processo quase doloroso. Mas que valeu a pena, gosto bastante de a tocar.

T – Alguma palavra final?

CS – Quero agradecer a entrevista, claro. Quero dizer ao pessoal para ficarem atentos, hão de vir singles ainda este ano.

Para “morder a velinha”, é esperar lançar o álbum no outono e estar aqui em Vila Real com o meu primeiro álbum em cima.

Carlos Sanches atuará no próximo dia 10 de fevereiro em Vila Real, na Archie Tattoo Studio – House Of Arts. A entrada tem um custo de cinco euros e pode ser adquirida via mensagem privada no Instagram da organizadora Cultura a Dentro ou via geral@culturaadentro.pt.

O artista pode ser acompanhado nas diversas redes sociais, nomeadamente no Spotify, no YouTube, no Instagram e no Facebook.

Joaquim Duarte