Atualmente, parece “normal” sentirmos aquela dor no peito, aquele frio na barriga, aquela respiração ofegante incapaz de ser controlada ou até mesmo aquela dor de cabeça provocada pelos nossos pensamentos mais profundos.
Há alturas em que me questiono acerca da minha mísera existência dentro de um universo tão vasto e repleto de estrelas, mas acabo sempre por encontrar mais dúvidas do que respostas. Elas brilham tanto e parecem tão perfeitas que quando as observo nas constelações chego a ficar esperançoso de um dia conseguir ser parecido com elas, só pelo simples facto de serem estrelas à volta de outras estrelas que no final acabam por se complementar. Mas esse é um dos meus maiores erros: a comparação.
A verdade é que eu conheço-me muito bem, às vezes até mais do que desejava, e sei que é difícil uma estrela brilhar todos os dias sem a ajuda das outras, acabando por desperdiçar o que costumam designar de “os melhores anos da tua vida”. É doloroso sentir a perda da nossa própria luz, ao mesmo tempo que temos a consciência que fazemos de tudo para voltar a recuperá-la, esforço esse que acaba por ser desvalorizado por quem nos rodeia ou até mesmo por nós próprios.
Lembro-me de que me diziam que as coisas nem sempre seriam assim e que um dia tudo iria melhorar, mas talvez eu precisasse que me dissessem que as coisas não vão melhorar porque nada nem ninguém me conseguiu preparar para isto. Afinal, o processo de crescimento pode ser um pouco solitário, cheio de altos e baixos, e está tudo bem. A vida é mesmo assim: emocionalmente abusiva.
Foi a partir daqui que aceitei o mundo tal como é, assim como o lugar que ocupo dentro de uma geração triste que coleciona fotos felizes. Aceitei que há momentos em que o meu brilho parece que desaparece, quase como se alguém o tivesse roubado, mas na verdade só foi ofuscado, muitas vezes por mim próprio.
Viver na ponta do precipício é viver no limite, com medos e receios que ele desmorone, mas não é uma escolha, e sim uma falsa zona de conforto.
Ivo Pereira