Os jogos olímpicos de 2020, realizados no ano 2021 devido à pandemia, em Tóquio, Japão, vieram mostrar que este evento é muito mais do que apenas desporto. Sublinhando que, para mim, são os jogos olímpicos mais atípicos de todos os tempos. Um dos pontos mais debatidos em torno desta competição é a discriminação e sexismo no vestuário desportivo. Como por exemplo, o que aconteceu com as ginastas alemãs que usaram unitards, ou seja, macacões de pernas longas e, às vezes, de mangas longas. Em vez de usarem os tradicionais maiõs.
Estas atletas já tinham adotado o uso deste tipo de fatos de corpo inteiro nos Campeonatos da Europa, afirmando que queriam mostrar que cada mulher deveria decidir o que vestir. Originando assim um novo protocolo relacionado com a proteção de atletas, pois nos últimos anos a ginástica, dentro de variados desportos, tem sido muito abalada por casos de abuso sexual e físico.
Outro tema importantíssimo, e que necessito de comentar, é a pressão feita às desportistas em relação à sua imagem. Muitas jovens, e até eu mesma, afastamo-nos de atividades desportivas com o medo da mudança que os nossos corpos podem ter com os treinos. Quando tinha 13 anos deixei a natação por medo de ficar menos atraente aos olhos da sociedade, o mesmo tem vindo a acontecer com inúmeras desportistas que acabam por desenvolver distúrbios alimentares com medo de serem pouco femininas.
A sueca, e campeã europeia nos 400 metros em 2012, Moa Hjelmer, mostrou a sua indignação pela pressão pública que as atletas sofrem.Referindo a idealização do corpo perfeito, que não existe, pois todos os corpos são perfeitos, criticando os treinadores que muitas vezes costumam opinar sobre o que as suas atletas devem ou não comer.
O momento mais memorável e bastante marcante destes jogos olímpicos, para mim, é toda a situação envolvente de Simone Biles, uma ginasta profissional dos EUA, vencedora de 25 medalhas mundiais, sendo 19 delas de ouro. Na passada quarta-feira, a ginasta desistiu de disputar as provas individuais gerais, saltos, barras e assimétricas, alegando problemas psicológicos devido a pressão sentida. Justificou que quer manter a sua sanidade mental e revelou que tem menos confiança em si do que tinha antes. No dia 3 de agosto, Biles conquistou a medalha de bronze, mas antes disso tinha ganho a medalha da coragem. Demonstrando a todo o mundo o quão importante é a saúde mental. O quão devemos priorizar a saúde mental. E que está tudo bem, ou ficará tudo bem, se desistirmos, ou dermos uma pausa, por esse mesmo motivo. Também Tom Daley, vencedor da medalha de ouro em saltos sincronizados para a água, tem sido alvo de muitos, e bons, comentários. Não devido à sua medalha, mas sim sobre a sua paixão por tricô e crochê que o ajudaram a superar todos os confinamentos e o adiamento dos jogos olímpicos.
Tem sido uma aprendizagem muito bonita e pura assistir a estes jogos olímpicos e perceber que a sociedade ainda tem um genuíno potencial. Mutaz Essa Barshim e Gianmarco Tamberi compartilharam a medalha de ouro no salto em altura, quebrando um tabu centenário e mostrando o verdadeiro espírito olímpico.
Mas, antes de terminar, Krystsina Tsimanouskaya, para ti toda a força do mundo. Toda a força do mundo para esta atleta bielorrussa que foi obrigada a regressar ao seu país de forma inesperada, tendo de deixar os Jogos Olímpicos e não poder participar nas suas competições. Pediu asilo político e recebeu-o da Polónia. Estes exemplos, de imensos, transformaram estes Jogos Olímpicos nos Jogos Olímpicos mais bonitos que assisti. Espero que todos tenham apreendido algo nesta competição porque a cada dia forneciam uma lição de vida nova.
Maria Faria