Nomadland – Sobreviver na América, vencedor do Óscar de melhor Filme e Diretor

Nomadland – Sobreviver na América, vencedor do Óscar de melhor Filme e Diretor

Nomadland é o mais recente filme da diretora Chloé Zhau e foi nomeado por vários prémios, nomeadamente para o Óscar de Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Guião Adaptado, Melhor Atriz, Melhor Montagem e de Fotografia, tendo ganho os dois primeiros.

Sendo um filme intimista com espírito independente, Nomadland contou com um baixo orçamento e com a dedicação de Chloé Zhau, visto que para além de diretora, Zhau escreveu, montou e produziu a obra.

Sem um trajeto definido, comentário que se aplica tanto à estrutura do filme, como à vida da Protagonista, Fern, Nomadland não tem um objetivo palpável, pois tem como propósito fazer com que a protagonista chegue onde precisa psicologicamente, contando assim a história de uma mulher na casa dos 60 anos que apenas quer viver a vida de forma calma, aproveitando um dia de cada vez.

Nomadland é um filme calmo, introspetivo e reflexivo que, por deixar as coisas acontecerem devagar, não é para toda a gente. Esta obra é rica tematicamente, pois debruça-se sobre o que significa viver nos EUA e na ilusão do sonho americano, desconstruindo a ideia de que a América é a terra das oportunidades; comenta a pressão que as pessoas sentem em ter e não em viver; discute a diferença entre casa e lar; desenvolve temas como a solidão e o luto, o crer estar sozinho, ser independente e o medo de assentar; sem nunca forçar nenhuma das suas mensagens.

Chloé Zhau optou por uma direção semelhante à documental, transmitindo a sensação de que se está a acompanhar um grupo de pessoas que está apenas a viver a sua vida, sentimento que é reforçado pelo facto de muitas das personagens secundárias, não serem atores, mas sim as próprias pessoas referenciadas no livro Nomadland que deu origem ao filme, dando-lhe assim uma dimensão mais realista e palpável.

Quanto à fotografia do filme, Chloé Zhau soube aproveitar completamente a beleza natural dos locais que a protagonista percorreu, dando a conhecer aos espectados uma América diferente. Uma América selvagem, natural e intocada.

Deste modo, Zhau teve o papel de tentar misturar e interligar o arco da protagonista, que é ficcional, com as histórias reais contadas no livro, de forma a criar uma narrativa coesa. Isto só foi possível por causa da performance da atriz Frances McDormand que, assim como as restantes personagens reais, aparece no grande ecrã despenteada, malvestida, sem maquilhagem, mostrando todas as suas rugas e imperfeições, dando vida a uma verdadeira nómade.

Nomadland é um filme cru, sem medo de contemplar o que a vida tem para oferecer, acompanhando pessoas que não têm casa, por motivos diferentes, mas que têm a mesma motivação, viver a vida de forma livre.

Inês Lopes