Violência, uma palavra pesada, mas que nos é muito familiar. Ano após ano continua um assunto banalizado, ano após ano, manifesta-se circunstancialmente nos media, enquanto assuntos secundários são palco de muita relevância aos olhos da sociedade.
A violência contra a mulher é caracterizada como uma das violações mais praticadas e menos reconhecidas no âmbito dos direitos humanos. De lamentar que a sociedade, mesmo com toda a informação a que tem acesso, ainda vitimize o agressor, afirmando que a ocorrência de crimes sexuais é justificada pelo comportamento da própria vítima. Neste contexto, o abuso sexual é entendido erradamente como um ato normal, por outras palavras a sociedade presume que se te vestes de determinada maneira é porque estás a provocar, e consequentemente, estás a “pedir” para ser violada. Este é um de muitos exemplos do pensamento retrógrado e sem fundamento que honestamente espero que dissipem.
Na semana passada surgiu uma situação incomum, um plano diferente do que estamos habituados a lidar, mas que na minha ótica é bastante mais regular do que nós julgamos. Durante um direto um jovem admite violar sexualmente uma jovem ao qual esta acaba por dar a cara, afirmando que é mentira. Com isto, concluímos que estamos perante uma sociedade de aparências, uma sociedade ridicularizada por pessoas que na sua conceção consideram “fixe” fazer atrocidades que ética e socialmente são condenáveis. O que alimenta mais ainda estas atitudes são os ditos de “amigos” que enaltecem e vangloriam atos desta complexidade em vez de os condenarem.
De realçar que, em Portugal, as penas judiciais que refletem atos de violência sexual são ínfimas tendo em conta o dano físico e sobretudo psicológico que causam, pelo que estes comportamentos vêm agravar ainda mais a desvalorização por parte de entes competentes, que acabam por descredibilizar situações reais. Nisto cria-se uma onda de revolta aquando nos sentimos impotentes diantede acontecimentos que nos ultrapassam. Estes atos interligam-se diretamente ao conceito de machismo, uma vez que os homens demonstram uma atitude de prepotência relativamente às mulheres, como se nós não tivéssemos uma opinião, nem poder de decisão.
Há claramente uma falha no nosso sistema social, enquanto não se desconstruir a cultura do machismo injetada na sociedade, dificilmente as mulheres serão respeitadas e valorizadas. Ainda assim, o sistema jurídico não fica muito atrás na culpabilização desta falha, apenas quando medidas fortes forem suplementadas é que, eventualmente, a taxa de crimes sexuais diminuirá.
Até quando vamos ter medo de andar sozinhas na rua, com receio do que os homens nos possam fazer; até quando vamos ponderar que roupa vestir com medo de nos sentirmos desconfortáveis com olhares e piropos indesejáveis; até quando ser mulher vai ser um ponto negativo na sociedade em que vivemos? Existe. É real. Mas até quando?
Por fim, quero usar o poder de voz que me foi atribuído para salientar que nós mulheres devemos ter sororidade e empatia umas para com as outras. Devemo-nos ajudar mutuamente porque quer queiramos ou não, não está nas nossas mãos o poder de escolher o bom senso e o respeito dos homens. Infelizmente.
Cláudia Araújo