Da Liberdade à Perseguição; do Amo-te ao Odeio-te; do Abraço ao Estalo; do Amor ao Desamor. A Sociedade não avança, ainda que seja regida por valores democráticos. A Violência no Namoro perdura. O Silêncio e o Sofrimento aumentam. A Vida deixa, para muitas das vítimas, de fazer qualquer sentido.
Violência: um tema que subsiste nos dias de hoje, sendo disseminado, frequentemente, nos diversificados meios de comunicação social. Neste sentido, e após o tão famoso 14 de fevereiro, o Dia dos Namorados, é necessário abordarmos a problemática da Violência no Namoro, dado ser uma prática que continua intrínseca nos dias de hoje, traduzindo-se em infindáveis insultos, agressões, proibições, ameaças, bem como perseguições.
Quantos de nós implorámos para não abrirmos as nossas redes sociais no dia 14 de fevereiro? Talvez tu, que neste momento te encontras a ler este texto, tiveste este pensamento, mas aquele vício das redes sociais tornou-se mais forte e agiu sobre ti. Claramente, deparaste-te com um mundo cor-de-rosa, onde foram partilhadas as mais bonitas e sentimentais declarações de amor, bem como fotografias de jantares, como se o vírus, nesse dia, tivesse desaparecido durante algumas horas… É do conhecimento de todos, que nas redes sociais apenas é partilhado um conteúdo idealizado, como se tudo fosse um “mar de rosas”, onde os seus utilizadores apenas tendem a mostrar uma felicidade, muitas das vezes, utópica.
Quando nos apaixonamos por alguém, idealizamos uma relação sólida, uma vida em conjunto, bem como um futuro partilhado. Se ao início, as relações são cor-de-rosa, rapidamente se podem tornar assustadoras.
Encaro, neste momento, como uma obrigação a abordagem deste tema, pois a violência exercida numa relação atinge proporções tais que, ano após ano, se continua a registar taxas absurdamente elevadas nos diversificados estudos dedicados a esta temática.
Remontando ao ano 2020, foram registadas mais de 2000 queixas à PSP sobre violência no namoro transversais a todas as faixas etárias, sendo que 85% destas envolvem violência psicológica. No entanto, registou-se um decréscimo de 5% face às queixas recebidas em 2019, pois nesse ano haviam sido registadas 2100 denúncias. Se, por um lado, é assustador pensarmos nestes números elevados, por outro, não sabemos até que ponto as vítimas sofrem em silêncio, pois o silêncio é muito característico da violência, uma vez que as vítimas costumam ser ameaçadas caso denunciem as ações praticadas sobre si, vivendo numa amargura e num medo que se vai acentuando à medida que o tempo passa. Em muitos dos casos, a vítima acaba por não aguentar, e o sofrimento prevalece em relação à racionalidade. A única solução que esta encontra para fazer face à sua dor é colocar termo à sua vida.
Estas ações tornam-se intemporais. É, sem dúvida, um facto assustador, no entanto retrata a sociedade em pleno século XXI: uma sociedade caracterizada pelo ódio, pelo conflito e pela repulsão. Neste sentido, e de forma a compreender melhor determinadas mentalidades, foi divulgado recentemente um estudo realizado pela UMAR, União de Mulheres Alternativa e Resposta, no âmbito da campanha “#NamorarSemViolência”, a propósito do dia 14 de fevereiro. Nesse estudo, concluiu-se que a maioria dos jovens acha legítima a violência no namoro (26% acha legítimo o controlo, 23% a perseguição, 19% a violência sexual, 15% a violência psicológica, 14% a violência através das redes sociais e 5% a violência física). É lamentável a mentalidade retrógrada que tende a subsistir, ainda por cima nos jovens, dado que são eles que poderão modificar uma geração vindoura, e claramente, que todos ansiamos uma mentalidade mais aberta, sensível e suscetível a estes temas que assolam imensas pessoas.
Nunca nos esqueçamos de que a violência é um crime passível de ser punido por lei. Desta forma, ninguém tem qualquer direito de agir violentamente sobre outrem, dado que cada um tem direito à sua liberdade e privacidade, e jamais poderão querer impingir um determinado tipo de comportamento, visando única e exclusivamente a satisfação de interesses próprios, bem como a libertação da raiva que exige dentro de si. Nestas situações, a comunicação torna-se fulcral, de modo a que ambas as partes se comportem como indivíduos civilizados, sem existir desrespeito, nem destilação de ódio.
Caso soubermos de alguma situação de violência, temos de cumprir com o nosso papel: alertar as Entidades Competentes, de modo a que o criminoso se responsabilize e lhe seja aplicada uma sanção pelos atos cometidos. Não podemos ignorar, dado que se trata de um crime e a justiça tem de ser feita. Esta mensagem é para Homens e Mulheres: somos todos cidadãos, integrantes de uma sociedade democrática, onde temos direitos e deveres equitativos. Se fizermos o nosso papel, zelamos pelo bem-estar das vítimas que, infelizmente, sofrem diariamente nas mãos de um(a) agressor(a).
Para concluir, peço que nunca se esqueçam que ao exercermos o nosso papel, ativo, consciencializado e empático, podemos salvar vidas. A vida é o valor que deve estar acima de todos os outros. Indubitavelmente, sentir-nos-emos orgulhosos se conseguirmos salvaguardar todas as vítimas que sofrem diariamente nas mãos do companheiro com quem idealizaram uma vida. Que o bom-senso continue a reger a nossa conduta.
Nuno Teixeira